terça-feira, 13 de junho de 2017

Do pensamento simbolista, surge o ‘Mundo da Arte’


"Membros do movimento Mundo da Arte", pintura de Boris Kustodiev, 1916-1920
O grupo de artistas e intelectuais que se uniu no que ficou conhecido como “Mundo da Arte” (Mir Iskusstva, em russo), foi contemporâneo e bastante semelhante aos pintores simbolistas franceses, conhecido como “Les Nabis”. É o que aponta a pesquisadora Camilla Gray em seu livro “O grande experimento. Arte russa.”, que também narra:

“Emergiu de uma sociedade de colegiais, o ‘Pickwickianos do Neva’, que se tinha transformado numa ‘sociedade para a auto-educação’ sob a liderança de Alexander Benois em fins de 1880. A escola que todos frequentavam, o Colégio May, era uma instituição privada de classe média alta para os filhos da intelligentsia abastada de São Petersburgo, muitos dos quais de ascendência estrangeira”.

Era este o perfil dos membros do grupo que surgiu como um movimento no começo dos anos 1890, também paralelo ao movimento “Art-Nouveau” europeu. Eles desejavam representar “a vanguarda artística na Rússia” no final do século XIX e começo do XX. Era uma sociedade, que organizava exposições e depois editou uma revista.

Os artistas deste grupo - desenhistas, escritores, poetas e pintores - queriam influenciar a sociedade “e inspirar nela uma atitude desejável para com a arte - arte entendida em seu sentido mais amplo, o que vale dizer: incluindo literatura e música”.

"Alexander Benois", por Leon Bakst, 1898
Um de seus principais líderes foi Alexander Benois (1870-1960), desenhista teatral, produtor, crítico e historiador de arte. Nasceu em São Petersburgo, de família com ascendência alemã, francesa e italiana, e que pertencia a uma colônia estrangeira em São Petersburgo, criada na época em que o czar Pedro, o Grande, tinha trazido artistas do Ocidente para a Rússia, com o fim de ocidentalizar a cultura local, no século XVII.

A família Benois teve uma sucessão de artistas talentosos (incluindo arquitetos) que haviam dado uma grande contribuição à ocidentalização da Rússia. Os Benois não simpatizavam com as ideias de valorizar a cultura russa original, que consideravam bárbara e provinciana “e ao contrário de seus contemporâneos, seus membros não se desligaram do Ocidente”. Pelo contrário, por suas origens europeias, acompanhavam as ideias contemporâneas francesas e alemãs, assim como as italianas. Benois frequentou por apenas um ano as aulas de desenho - seu único aprendizado em arte - na Academia de Belas-Artes de São Petersburgo. 

Esta faceta internacional era a característica básica de o Mundo da Arte. Traziam a ideia da “arte como salvação da humanidade, o artista como sacerdote dedicado, e sua arte o caminho da verdade e beleza eternos.” O Mundo da Arte queria restaurar na Rússia a cultura que havia se perdido durante o período em que o movimento “Os Itinerantes”  (leia mais aqui) influenciou artistas e intelectuais russos. 

“Seu alvo era criar na Rússia um centro essencialmente internacional que contribuiria, pela primeira vez, com a corrente principal da cultura Ocidental.”

Retomaram o estudo das ideias alemãs, francesas e inglesas e fizeram uma reaproximação com o legado das reformas feitas por Pedro o Grande e por Catarina, que tinha sido totalmente desprezado pelos “Os Itinerantes”. 

Entre os “Pickwicknianos do Neva” (os fundadores do Mundo da Arte), estavam Dmitri Filosofov, Konstantin Somov e Walter Nuvel. Dmitri “Filosofov era um rapaz bonito e elegante”, filho de um importante membro do governo, um aristocrata - “era escritor, mas não muito criativo” - apresentou ao grupo o escritor Dimitri Merezhkovsky, “pensador religioso simbolista que contribuiu com a veia mística para as discussões do grupo.” Os membros do grupo se reuniam quase todos os dias, após as aulas, na casa de Benois. 

Revezavam-se em palestras, interrompidas por constantes risadas e gracejos, que as frequentes chamadas à ordem de Benois, sacudindo o sino de bronze da mãe, não conseguiam dominar totalmente”. Falava-se especialmente sobre artistas alemães, de Dürer a Liebermann e Corinth. Benois escreveu mais tarde que, nessa época, os impressionistas franceses não eram conhecidos na Rússia, sendo introduzidos somente após as exposições do Mundo da Arte no começo do século XX. Ele dizia que o livro de Émile Zola “A obra”, publicado em 1918, foi a primeira fonte de ideias impressionistas na Rússia.

Benois conheceu na Academia o estudante de arte Lev Rosenberg, que era pintor e desenhista teatral, mas cujo nome artístico ficou Leon Bakst, em homenagem ao avô. Apesar de ser o único que tinha origem mais pobre, Bakst se tornou líder do grupo e seu primeiro artista profissional - era dos “mais ferrenhos propagandistas do anti-academicismo, pois havia experimentado em primeira mão o frequente preconceito acadêmico contra qualquer coisa que ultrapassasse a fórmula tradicional”. 

Antes, ele também tinha sido aluno de Pavel Chistyakov e estava plenamente convencido do valor do realismo na pintura. Havia feito uma madona como uma velha de olhos vermelhos, vertendo lágrimas sobre o filho morto. Esta tela estava participando de um concurso com o tema “Pietá”. Quando Bakst foi chamado pelo júri, viu sua tela riscada com duas linhas de giz. Ficou furioso! Resolveu, depois disso, se juntar ao grupo Mundo da Arte por sua posição radical contra a Academia (mas que também era contra “Os Itinerantes”).

No final dos anos 1890, chegou a São Petersburgo um primo de Filosofov, Sergei Diaghilev, que logo foi apresentado ao grupo, com o qual não se identificou de imediato, comparecendo às reuniões com pouca frequência.

Após a formação escolar no Colégio May, a maioria dos alunos, como era de costume, foi para a Europa passar um ano, antes de entrar na Universidade de São Petersburgo: Benois tinha ido para a Alemanha, para se familiarizar com a arte contemporânea de Munique; Filosofov e Diaghilev tinham ido para Paris e voltaram bastante impressionados com as obras de Zuloaga, Puvis de Chavannes e do pintor escandinavo Anders Zorn.

Em 1893, um diplomata francês, Charles Birlé, que estava a serviço do consulado francês em São Petersburgo, foi apresentado aos “Pickwicknianos do Neva”, com quem ficou durante um ano e apresentou a eles os impressionistas franceses, em especial Gauguin, Seurat e Van Gogh.

Sergei Diaghilev era o menos criativo de todos do grupo, mas o mais prático. Por isso, logo que surgiu a ideia de publicar uma revista, como nenhum dos outros tinha aptidão prática para coordenar uma empresa como esta, o escolhido foi Diaghilev, que também era o responsável pela organização das exposições de arte. Em 1895 ele havia ido ao exterior e adquirido muitas pinturas para sua coleção.

O ano de 1896 foi um ano de dispersão do grupo. Benois, formado na universidade e casado, mudou-se para Paris, assim como outros que também foram para o estrangeiro.

Mas em 1897, Diaghilev retomou o grupo e organizou duas exposições: “Aquarelas inglesas e alemãs” e “Pintores escandinavos”. Em 1898 organizou a “Mostra de pintores russos e finlandeses”. Estas exposições foram grandes eventos artísticos e marcaram o Mundo da Arte como uma “sociedade de exposições”. 

Resolveram que era chegada a hora de ter uma revista, também intitulada Mundo da Arte. Mais uma vez o papel de organizador principal coube a Sergei Diaghilev, que, aliás, não era artista. Mas como o custo de produção era muito alto, procuraram o apoio da princesa Tenisheva, que tinha um centro de artes instalado em sua propriedade e era muito amiga de Benois; assim como o de Sava Mamontov, que havia se recuperado da falência e dirigia uma indústria cerâmica. O primeiro número de Mundo da Arte saiu em 1898, uma edição caprichada, que levou um ano para ser produzida, com clichés feitos na Alemanha.

Benois havia voltado de Paris e escreveu dois artigos iniciais: sobre os impressionistas franceses e sobre o pintor alemão medieval Pieter Brueghel. Este último artigo foi recusado, por não ser “suficientemente moderno”.

O grupo já havia se dividido em duas visões distintas: uma de esquerda, que “eram pelo ‘novo’ acima de tudo, e que, por princípio, atacavam tudo o que consideravam limitado, provinciano ou antiquado”; outros membros se posicionavam mais à direita, eram conservadores.

Na revista, Filosofov também publicou textos de representantes da primeira geração de simbolistas da literatura russa. 

Capa da revista Mundo da Arte, 1899,
por Jelena Dmitrijewna Polenowa
O Mundo da Arte, observa Gray, “inspirava-se na ideia de uma arte que existisse autonomamente, não subserviente a um tema de propaganda religioso, político ou social. (...) A Arte era vista como uma forma de experiência mística, um meio através do qual a beleza eterna poderia ser expressa e comunicada - quase um tipo novo de religião.”

O Simbolismo estava em alta em vários países da Europa Ocidental, como a França, e também tinha alcançado a Rússia. Na literatura, os escritores religiosos Merezhkovsky e Rosanov eram comparados aos franceses Baudelaire, Verlaine e Mallarmé.

No primeiro número da revista, incluiu-se ilustrações dos artistas do “Art-Nouveau” de vários países. Entre eles, os franceses Puvis de Chavannes (que teve muitos seguidores na Rússia), Monet e Degas. 

No último ano de publicação da revista, em 1904, ela se voltou mais para os artistas franceses, publicando-se nela imagens de obras pós-impressionistas. Mas os membros do grupo também nutriam ainda mais simpatia para com os artistas secessionistas de Viena, Böcklin e da Escola de Munique. O grupo publicou o último número da revista Mundo da Arte com a certeza de que havia cumprido o papel de restabelecer contato com a vanguarda artística europeia ocidental, preparando o terreno para uma “cultura internacional” na Rússia. 

Eles também haviam se voltado para a moda francesa recente de admirar a arte folclórica e primitiva, coisa que já havia atraído o interesse dos artistas do Círculo de Mamontov

“Contatos entre o movimento nativo de Moscou e o trabalho de Gauguin, Cézanne, Picasso e Matisse começaram em 1904 e continuando até 1914. Seu trabalho foi marcado por uma sucessão de exposições históricas, continuação lógica do movimento Mundo da Arte”.

Desde a exposição de 1900, as mostras de arte do grupo se voltaram mais para os artistas russos. Mas “havia duas tendências nesse estilo novo que poderiam ser, grosso modo, definidas como as escolas de S. Petersburgo e a de Moscou: a escola da linha e a escola da cor.” Falaremos delas mais abaixo.

Da escola de São Petersburgo, com artistas mais jovens, estavam: Benois, Somov, Lanseray, Dobuzhinsky e Bakst. Da escola de Moscou: Igor Grabar, Pavel Kusnetsov, Utkin, os irmãos Miliuti Sapunov e os líderes da futura vanguarda da década seguinte Larionov e Goncharova, que participaram pela primeira vez de uma exposição do Mundo da Arte em 1906. 

Tendo saído do movimento, Sergei Diaghilev a partir de 1905 passou a organizar por conta própria eventos que elevassem a arte e a cultura russa ao status merecido, dentro e fora da Rússia. Realizou em primeiro lugar uma exposição de pinturas de retratos do século XVIII, “o que significava recolher e juntar obras de arte completamente esquecidas e desprezadas, de remotas casas de campo do país inteiro.” Foi o que ele fez. O resultado foi brilhante. A exposição aconteceu no Palácio Taurida em São Petersburgo, e na inauguração estava o czar Nicolau II (lembremos que este foi o ano da primeira grande revolução que abalou o Império russo, e terminou com o assassinato em massa de uma manifestação de trabalhadores, executado pelas forças czaristas. O episódio ficou conhecido como “domingo sangrento”. Camilla Gray se cala sobre isso...)

Em 1906, Diaghilev organizou a seção de arte russa no Salon d’Automne em Paris, no Grand Palais. Eram 12 salas dedicadas à arte e cultura russas e a montagem foi organizada por Bakst. Foi uma mostra bastante ampla, apresentando desde a pintura de ícones a exemplos de todos os períodos da arte russa - com exceção das obras dos artistas do grupo “Os Itinerantes”. Foi desta exposição que participaram Mikhail Larionov e Natalia Goncharova.

Diaghilev também levou para Paris uma apresentação do “Balé russo” em 1909, que se apresentou no Teatro Châtelet e teve grande sucesso. Até 1914, Diaghilev levou anualmente a Paris alguma mostra ou apresentação musical:

“em que se pode localizar os vários temperamentos e linguagens que iriam compor o ‘Mundo da Arte’: o ressurgimento clássico favorecido por Benois; Roerich e a evocação de remotas culturas pagãs por Igor Stravinsky; o ressurgimento helenístico, refletido nos desenhos de Bakst (...); o impressionismo ornamental-decorativo de Golovin na tradição de Vrubel; os desenhos impressionistas de Korovin; e nos últimos desenhos de Larionov e Goncharova que, não só recuperam, em seus coloridos brilhantes e motivos formais, o retorno à arte folclórica dos artistas de Abramtsevo, mas antecipam o movimento futurista na pintura do qual eles foram os pioneiros na Rússia”
"O fantasma", Victor Borissov-Mussatov, 1903
O pintor mais importante desse período inicial da arte moderna russa, depois de Vrubel, foi Victor Borissov-Mussatov (1870-1905). Natural de Saratov, no Volga oriental, que era o principal centro de arte de província desta época até 1920. O Museu de Saratov ostentava uma coleção bastante erudita para a época e Mussatov , ainda criança, passou a frequentar as aulas de desenho no Museu. Foi depois para a Faculdade de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou. Em 1891 transferiu-se para a Academia de Belas Artes de São Petersburgo, sendo um dos últimos alunos a estudar com Pavel Chistyakov.

Em 1895 foi para Paris, trabalhando durante 4 anos no estúdio de Gustave Moreau “famoso por sua breve acolhida aos futuros pintores ‘fauves’”. Mas seu interesse principal foi pela obra de Puvis de Chavannes e por causa dele,Mussatov passou a trabalhar num estilo “historicista”: seu fascínio pelo passado foi uma constante em seu trabalho, “o momento irrecuperavelmente perdido do qual ele parece lamentar-se para sempre”. Ele tornou a figura humana mais distante e misteriosa “uma visão secreta e ensimesmada da existência.”

Em 1895, morre Gustave Moreau e Mussatov volta à Rússia, indo para sua terra natal, Saratov. Um proprietário de terras cedeu a ele um parque abandonado com uma casa velha de estilo clássico, com colunas brancas e cúpulas arrendondadas, que aparecem várias vezes em seu trabalho. “Os azuis suaves e os verdes acinzentados, que Mussatov sempre usou, são as cores dos simbolistas por excelência”, observa Camilla Gray.

Os estilos pictóricos de São Petersburgo e Moscou

SÃO PETERSBURGO
MOSCOU
Ênfase na linha
Ênfase na cor
Influência dos cenários do teatro sobre a pintura de cavalete
Novas maneiras de criar o espaço, sem se ligar na perspectiva
Passaram das formas fechadas a formas abertas, rejeitando a modelagem tradicional
Sentimento simbolista
O sentido da distância se sobrepunha ao explícito senso de distância entre o espectador e o mundo
“o intangível, o misterioso, e não o defnido e compreendido, representam a realidade mais profunda”

O uso de silhuetas mais exageradas, que se pareciam mais a caricaturas do que figuras humanas, exibidas de perfil ou de costas para o espectador
Influência dos impressionistas franceses
Redução da figura humana a uma forma apenas ornamental-decorativa
Uso de cores lisas em tudo, como na pintura de ícones
Eloquência da linha divorciada da cor e da forma
distanciamento do realismo na cor e na forma
..................................................
Referência bibliográfica:
Gray, Camilla. O grande experimento. Arte russa. 1863-1922. São Paulo: Worldwhitewall Editora Ltda, 2004

"A senhora na cadeira de balanço" (esboço para um filme não realizado),
Mussatov, 1897
"A carta de amor", Konstantin Somov, 1911
"Tipos da cidade", Mstislav Dobuzhinsky, 1915 
"Nemetskaya", Alexander Benois, 1911
"Elizabeth Petrovna", Eugene Lanceray, 1905

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Isaac Levitan, pintor da paisagem russa

"Eterno silêncio", Isaac Levitan, óleo sobre tela, 1894
Retrato de Isaac Levitan,
por Valentin Serov
Isaac Ilich Levitan nasceu em 1860, em Kybartai, na Lituânia, filho de judeus pobres. Seu pai, Eliashiv Abramovich, era professor particular das línguas francesa e alemã, e com isso pagava as despesas familiares, mas também educava seus filhos. Levitan recebeu suas primeiras lições com seus pais, em casa. Sua mãe, Bert Moiseevna, também havia sido educada e valorizava muito a formação dos quatro filhos. No final da década de 1870, a família se mudou para Moscou. Lá, apesar de uma situação financeira ainda pior, os pais de Levitan queriam incentivar a paixão de seus filhos pela arte, o que mostraram desde o início, e não se opuseram à decisão de Isaac de se tornar um artista e entrar para a Faculdade de Pintura e Escultura de Moscou.

Em 1875, a família sofreu um duro golpe com a morte da mãe. Em seguida o pai ficou gravemente doente de tifo e não podia mais sustentar seus quatro filhos com as aulas particulares. Em 1876 Eliashiv faleceu.

Autorretrato, Isaac Levitan, 1880
Levitan passou sua juventude em extrema pobreza, sendo inclusive expulso da escola por não pagar seus estudos. Seus amigos reuniram o dinheiro necessário, e ele pode retornar às aulas. Mais tarde, o conselho de professores da faculdade decidiu deixá-lo estudar gratuitamente e até mesmo concedeu-lhe uma pequena bolsa de estudos, levando em conta o talento do rapaz. No mesmo ano, foi transferido para o curso de ciências naturais de Vasily Perov, que fazia parte do grupo “Os Errantes” (uma sociedade de artistas realistas russos formada em 1870).

Mais tarde, Levitan foi estudar com o famoso paisagista Aleksey Savrasov, que tomou conhecimento dos talentos de Levitan, assim como de sua pobreza, e lhe ajudou até financeiramente. Em 1877, na quinta exposição de arte de “Os Errantes” em Moscou, exibida no edifício da faculdade, Levitan participou com duas pinturas. Apesar de terem recebido grande aclamação, o Conselho Universitário só lhe ofereceu um diploma que lhe dava o direito de ensinar arte. Mesmo assim, segundo seu amigo Mikhail Nesterov, Levitan havia “trabalhado duro” e merecia o prêmio.

"Dia ensolarado", Levitan,
óleo sobre tela, 1876
Em 1879, o revolucionário judeu Alexander Soloviev tentou matar o czar Alexandre II, disparando seu revólver contra ele. O czar conseguiu fugir, e Soloviev foi condenado à morte por enforcamento. Por causa disso, foi decretada oficialmente a proibição aos judeus de viver na capital russa. Isaac e seus irmãos tiveram que deixar a cidade e se estabeleceram numa pequena casa na província de Saltykova. Nesse mesmo ano ele conseguiu vender sua pintura “Noite depois da chuva”. Continuava pintando sem parar a paisagem de seu país, apesar dos preconceitos que sofria por ter origem judaica. “O menino judeu talentoso incomodava outros professores que diziam que ‘judeu não deve pintar a paisagem russa’”. Mesmo assim, aos 24 anos de idade Isaac Levitan já tinha seu diploma de Pintor pela Faculdade de Pintura e Escultura de Moscou.

No mesmo ano, 1879, Levitan participou de uma segunda exposição de estudantes onde exibiu sua pintura "Um dia no outono em Sokolniki", que foi adquirido por Pavel Tretyakov e, com isso, seu talento foi reconhecido oficialmente.

Somente em meados da década de 1880 sua situação financeira começou a melhorar, graças a trabalho duro e muito sacrifício. Ele conheceu e se tornou grande amigo do escritor russo Anton Tchekhov, quando ainda ambos eram estudantes pobres. Mantiveram contato durante a década de 1880, encontrando-se constantemente em Moscou e nos arredores e foram os melhores amigos até os últimos dias de Levitan. Sua amizade era baseada em uma percepção similar sobre a natureza e sobre o mundo. 

"Depois da chuva", Levitan, óleo sobre tela
Em 1887 realizou seu grande desejo de conhecer o rio Volga, bastante retratado por seu professor de paisagens Savrasov. Mas seu primeiro contato foi frustrante: o dia estava muito frio e muito nublado e o rio lhe pareceu “triste e morto”. 

"Dia de outono", Levitan,
óleo sobre tela, 1879
Voltou no ano seguinte, na primavera, junto com outros artistas como Alexei Stepanov e Sofey Kuvshinikovoy. Durante a viagem, os amigos descobriram a beleza da pequena cidade de Plyos, próxima a Moscou, às margens do Volga. Resolveram ficar por lá um tempo e ele passou três temporadas de verão bastante produtivo, quando executou cerca de 200 obras. Esse esforço lhe rendeu fama e Levitan passou a ser popularmente conhecido como pintor de paisagens.

É desse período sua pintura "O refúgio silencioso". Seus contemporâneos diziam que essa pintura mostrava a natureza russa como "algo novo, mas muito próximo e querido". Desde então, todas as exposições itinerantes, assim como todas as exposições da Sociedade dos Amantes da Arte de Moscou e as exposições internacionais em Munique apresentavam obras de Levitan.

No final de 1889, pela primeira vez Isaac Levitan viajou para a Europa Ocidental, visitando França e Itália. Queria ver a pintura impressionista de perto mas, voltando a seu país, se manteve fiel a seu próprio caminho pictórico. 

Novamente foi obrigado a deixar Moscou em 1892, por ser de origem judaica. Viveu um tempo nas províncias de Tver e Vladimir. Graças a esforços de seus amigos, Levitan obteve uma “permissão especial” para voltar a viver em Moscou. Em seguida, viajou à Finlândia. Neste mesmo ano teve um infarto, do qual não se recuperou mais. 

Faculdade de Pintura, Escultura
e Arquitetura de Moscou
Sua saúde era muito frágil. Seus biógrafos dizem que por causa da fome que passou na infância e de uma vida sempre atribulada, Levitan desenvolveu problemas cardíacos muito cedo. O ano de 1895 foi um ano muito difícil para o artista. A doença do coração lhe trazia muita dor e sofrimento, e juntando a isso problemas em sua vida pessoal, Isaac Levitan vivia melancólico o que levou-o ao desespero e a tentar o suicídio. Mas seu amor pela natureza e pela arte o sustentou e o ajudou a superar sua doença e a fazer novas descobertas na arte. Em 1896 participou de mais uma exposição coletiva, desta vez na província de Odessa.

O melhor amigo, o escritor
Anton Tchekhov
Em 1897 escreveu a Tchekhov: “As coisas estão ruins. Meu coração não bate, sopra. Em vez de tum-tum eu ouço pfff…” Em março, em Moscou, teve um encontro com Pavel Tretyakov. 

Em 1898 recebeu o título acadêmico de “pintor de paisagens” e passou a ensinar pintura na mesma escola em que estudou em Moscou. Lá, criou um local especial para a pintura de paisagem, um lugar onde poderiam trabalhar todos os pintores de paisagens russas. Um de seus estudantes ressaltou a grande influência de Isaac Levitan em sua vida de artista: “sob sua orientação, a pintura ia tomando vida, cada vez de forma nova, como as suas próprias, que eram verdadeiros cantos da mãe natureza que ele percebia mais do que ninguém”. 

Em 1899, os médicos o enviaram para passar uma temporada em Yalta, onde vivia Tchekhov, que viu seu amigo chegando ofegante, pesadamente apoiado em sua bengala, falando que a morte se aproximava dele. Seu coração doía quase continuamente…

O pintor Serov, pintando Levitan
Mas os ares de Yalta nada puderam fazer pelo pintor doente. Levitan retornou a Moscou e quase não saía mais de casa. Em maio de 1900, Tchekhov foi visitar o amigo, agora gravemente doente. No dia 22 de julho, por volta das oito horas da manhã, seu coração parou de bater. Faltava pouco tempo para completar 40 anos de idade. Em sua oficina, mais de 40 pinturas estavam inacabadas e deixara mais de 300 esboços. A última pintura em que trabalhou foi “Lago”, também inacabada. Foi enterrado no cemitério judeu de Dorogomilovsky. Em seu funeral, estavam presentes os pintores Valentin Serov, Apolinário Vasnetsov, Konstantin Korovin, entre outros, assim como alguns de seus alunos, amigos e admiradores.

Em 1901 foi realizada uma exposição póstuma de obras de Isaac Levitan em São Petersburgo e Moscou, entre elas a pintura inacabada "Lago", que mostra a natureza russa a partir do sentimentos e pensamentos do artista a respeito da Rússia, que ele considerava sua pátria. Dois anos depois, seu irmão Abel Levitan erigiu um monumento no túmulo de seu irmão.

Em abril de 1941 seus restos mortais foram transferidos para o Cemitério Novodevichy, ao lado dos túmulos de seus amigos Tchekhov e Nesterov. 

Isaac Levitan deixou mais de mil pinturas!

Abaixo, você pode apreciar uma pequena amostra das obras deste grande mestre:


"Savvinskaya sloboda perto de Zvenigorod", Levitan, 1884
"Crepúsculo na dacha", Levitan



"Março", Levitan, 1895

"Nenúfares", Levitan, 1895

"A noite após a chuva", Levitan, 1879
"Noite no rio", Levitan



"Outono dourado", Levitan, 1895

"Ponte em Savvinskaya Sloboda", Levitan, 1884

"Primavera na Itália", Levitan, 1890

"Rosas", Levitan

"Claustro tranquilo", Levitan, 1890

"Vladimir", Levitan, 1892

"Fortaleza na Finlândia", Levitan
"Lago", última pintura de Levitan, 1900 - inacabada

terça-feira, 9 de maio de 2017

O retratista Valentin Serov

"A menina com pêssegos", Valentin Serov, 1887, óleo sobre tela, 91 x 85 cm
Autorretrato, 1880
Valentin Serov nasceu em São Petersburgo, em 19 de janeiro de 1865. Seus pais eram músicos: Aleksander Serov era compositor e crítico musical, um admirador da obra de Richard Wagner; Valentina Bergman, de origem alemã, também era compositora e estava sempre ocupada organizando festas e musicais. Ele foi o único filho do casal.

Serov, então, teve uma infância impregnada pela atmosfera artística, não somente por causa dos pais músicos, mas pelos amigos da família, escultores e pintores, como Mark Antokolsky e Ilya Repin, que sempre visitavam sua casa. Precocemente observador, logo o talento de Valentin para o desenho atraiu a atenção de todos.

Seu pai morreu quando o menino tinha seis anos. Sua mãe, assim que percebeu o talento do filho para o desenho decidiu ir a Paris, que na época era o centro principal da arte. Lá também já residia Ilya Repin, que ela conhecia bem e pensou nele para orientar a educação artística do filho. Foi Repin quem iniciou Valentin Serov no caminho da pintura.

Mas lembramos que em 1874, o casal Savva Mamontov (leia aqui) passou por Paris, vindos da Itália, e de lá trouxeram de volta para a Rússia Ilya Repin, assim como Valentina Bergman e seu pequeno filho de 9 anos de idade. Foram todos viver na mansão de Abramtsevo, propriedade do mecenas. Foi nessa comunidade de artistas e intelectuais que Valentin Serov cresceu e se desenvolveu como artista.

Ilya Repin por Serov
Valentin continuou seus estudos com Repin e conheceu outros artistas que frequentavam aquela residência, onde as atividades comunitárias incluíam leituras em grupo nas noites de domingo. Inicialmente liam-se os clássicos, mas isso logo evoluiu para “representações de pantomima” que se tornaram, por volta de 1881, produções teatrais que Savva Mamontov encenava nos invernos da mansão de Moscou. Ele mesmo escrevia os roteiros das peças, baseados em contos do folclore russo ou em algum episódio da história.

Para a montagem dessas peças, todos participavam. Victor Vasnetsov, assim como Korovin, Roerich, Golovin e Isaac Levitan, pintaram as cenografias das peças. Estes pintores trabalhavam nas produções teatrais da “ópera particular” de Mamontov. Na sequência, outros espaços teatrais começaram a seguir também o costume iniciado pelo mecenas de contratar pintores profissionais para pintar cenários. Isto acabou gerando o costume europeu de decoração teatral realística, pois antes os “panos de fundo” das salas de teatro eram apenas decorativos. “Isso provocou, por sua vez, uma revolução na ideia de teatro”, diz Camilla Gray. “A produção passou a ser vista como um todo e o ator teve de subordinar seu desempenho aos outros elementos: cenário, figurino, postura, música, linguagem. Assim uma síntese emergiu, uma unidade dramática.”

Com isso, o teatro atraiu as novas gerações de pintores. Vassily Polenov trouxe dois jovens estudantes da Faculdade de Moscou, Isaac Levitan e Konstantin Korovin (1861-1939). Este último, observa Gray, “foi o primeiro artista russo a refletir a arte dos impressionistas franceses”. Korovin havia ido a Paris em 1885 e tinha conhecido alguns dos pintores impressionistas daquela cidade. Dele teria sido a responsabilidade de revolucionar o desenho teatral.

Isaac Levitan, por Serov
Serov era um comediante natural e gostava de entreter os convidados de Mamontov. Em Abramtsevo, chegou a participar das peças e outras performances, fazendo os convidados se divertirem.

Além dessas pantomimas, Serov adorava artesanato, especialmente cerâmica. O prato de cerâmica que aparece na pintura "A Menina com pêssegos" foi feito à mão pelo próprio artista, que nos anos 1890 chegou até mesmo a montar uma cerâmica.

Valentin Serov também pintou de paisagens, pois havia estudado com Isaac Levitan.

Em 1890, Serov apresenta a Mamontov seu amigo Mikhail Vrubel (leia aqui), que vinha da Academia de Belas-Artes de São Petersburgo, onde havia ingressado em 1880 e também tinha sido aluno de Chistyakov.

A formação artística de Serov foi então bastante influenciada pela vida em Abramtsevo. Ele amava passear pelo campo, com seus bosques e espaços cercados por ravinas e aldeias. Em 1880, Serov entrou para a Academia de Belas-Artes de São Petersburgo, onde foi aluno de Pavel Chistyakov, que havia ensinado pintura também a Mikhail Vrubel, Surikov, Polenov e Repin. Mas cinco anos depois, Serov decidiu que seus estudos na Academia estavam encerrados. Se sentia “entediado".

Na segunda metade da década de 1880, Valentin Serov resolveu viajar para o exterior e, com isso, conheceu os impressionistas franceses. Começou a usar as cores vivas dos Impressionistas em seus trabalhos. Suas obras "A menina com pêssegos" (1887) e "A menina sob a luz solar" (1888) logo o fizeram conhecido e admirado. Nessas duas pinturas pode-se observar que Serov aplica nelas alguns dos conceitos pictóricos impressionistas, como a luminosidade das cores e uma forma mais solta de usar o pincel. O retrato de Konstantin Korovin, feito em 1891, mostra uma certa influência de Edgar Degas, cujas obras Serov pode ter visto em Paris.

Sacha e Yuri Serov
Com estas pinturas, Serov recebeu um prêmio da Sociedade de Arte de Moscou, sendo que a segunda foi imediatamente comprada pelo empresário russo Pavel Tretyakov, patrono de artistas, colecionador e filantropo, cujo nome ilustra a Galeria Tretyakov em Moscou.

Em 1887, Serov casou-se com Olga Trubnikova, com quem teve vários filhos. Ele era um pai amoroso e gostava de pintar seus filhos. O retrato "Crianças" de 1899, é um dos quais ele mostra seus filhos Yury e Sasha. Mas eles apareceram em outros de seus desenhos e pinturas.

A partir de 1890, o retrato tornou-se o gênero básico na arte de Serov. Foi neste campo que ele mais se destacou, pois foi um excelente retratista, conseguindo captar as características psicológicas de seus modelos. Logo conquistou a reputação de ser um dos melhores retratistas de sua época, ao mesmo tempo que Repin, seu antigo professor.

Serov passou a receber muitas encomendas para retratos. Em 1892, recomendado por Repin, Serov recebeu uma encomenda para pintar um retrato grande do imperador Alexander III e de sua família. Serov levou quase três anos para terminar a peça, pois tinha que pintar a partir de uma fotografia, pois somente uma única vez teve a chance de ver o soberano pessoalmente!

Os historiadores contam um caso curioso que ocorreu com o retratista Serov: ele foi encarregado de pintar o retrato de Nicolau II. A imperatriz acompanhou de perto o trabalho do artista, examinando cada pincelada que era dada. Imediatamente apontava o que ela via como “furos” do artista. Serov ouviu silenciosamente por um período de tempo, mas em determinado momento entregou a palheta e os pincéis para a imperatriz e lhe disse: “então é melhor a senhora mesmo fazer”! Felizmente Nicolau II saiu em sua defesa e pediu desculpas pelas interferências da esposa...

Nicolau II, por Serov
Valentin era muito exigente quando se tratava de pintar seus modelos, um trabalho que muitas vezes levava meses para concluir, em sessões ao vivo onde os modelos tinham que ficar horas imóveis. O menor movimento causava descontentamento ao artista. Alguns tinham até um pouco de medo de sentar-se para Serov pintar seus retratos, de tão rigoroso que ele se tornara. Mesmo assim, sempre havia muitos que queriam ser retratados por ele. Serov nunca falhava com seus clientes: sempre receberam belos e elegantes retratos dos quais poderiam se orgulhar.

Tendo ganhado larga popularidade, em 1894 Valentin Serov se juntou ao “Os Itinerantes”, grupo de artistas realistas russos que, em protesto às restrições acadêmicas, formaram uma cooperativa que também promovia exposições de obras de seus membros. Esta sociedade foi formada em 1870 em São Petersburgo, sob a liderança de Ivan Kramskoy. Ele e mais Grigory Myasoedov, Nikolay Ghe e Vasily Perov resolveram abandonar a Academia de Arte, naquele evento que se tornou conhecido como “A Revolta dos quatorze”.

De 1897 a 1909, Valentin Serov passou a ensinar na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou. Em 1900 mudou-se para São Petersburgo para participar do grupo “Mundo da Arte”, uma nova associação de artistas russos que estavam insatisfeitos com “Os Itinerantes”. Eles tinham também uma revista com o mesmo título, onde expunham suas ideias. Assim como seu amigo Korovin, Serov contribuia com textos para a revista, assim como para as exposições organizadas pelo grupo. Foi este grupo "Mundo da Arte" que organizou em 1907 a apresentação de um balé baseado no estilo dos "Contos de Horfmann", escritor alemão. O coreógrafo, Michel Fokine, apresentou um bailarino que havia sido seu aluno como sugestão para que ele atuasse nesse balé. Era Vaslav Nijinsky, que depois se tornou mundialmente conhecido como um dos maiores, senão o maior, bailarino de toda a história do balé mundial!

No começo do século XX, Serov se torna cada vez mais modernista, abandonando o estilo impressionista. Mas mantinha-se fiel à sua compreensão realista da natureza. Nesta época fez vários retratos, que continham alguma dramaticidade, de pintores, músicos, escritores e atores, como o retrato do escritor Maximo Gorki que vemos aqui.
Retrato de Maximo Gorki, por Serov

Valentin Serov também participava ativamente dos movimentos democráticos russos que culminaram com a Revolução de 1905. Ele chegou a fazer várias ilustrações satirizando figuras da vida política. Ele era uma espécie de membro consultor da Academia de Artes de São Petersburgo desde 1903, mas em 1905 renunciou a esse cargo em protesto contra a execução dos trabalhadores em greve, no episódio que ficou conhecido como “domingo sangrento”. Também executou algumas pinturas históricas. 

Em 1907, junto com Leon Bakst (pintor e cenógrafo russo, além de figurinista) viajou para a Grécia, para a ilha de Creta, onde os dois artistas estudaram as ruínas do Castelo de Knoss. Depois de voltar para casa, Serov começou a fazer esboços do antigo castelo e temas da mitologia clássica. É dessa época "O Rapto de Europa" pintado em 1910 (veja abaixo). Também nesta época pintou cenários para a ópera “Judith” no teatro Mariinsky.

O artista deixou uma grande quantidade de obras, que vão desde a pintura de paisagem a retratos e pinturas de eventos históricos. Seu nome se junta aos dos maiores da arte realista russa, mas ao mesmo tempo mostra que, assim como Vrubel, ele foi um dos artistas que inspiraram os posteriores modernistas russos.

Valentin Serov morreu de problemas cardíacos em 5 de dezembro de 1911, com 46 anos de idade. Foi enterrado no Cemitério Novodevichy, de Moscou.

-----------------------------

"O rapto de Europa", Valentin Serov, 1910, óleo sobre tela, 71 x 98 cm, Galeria Tretyakov
"Retrato de Olga Tamara", Valentin Serov, 1892
"Ida Rubistein", Valentin Serov, óleo sobre tela, 1910, 147 x 230 cm
"Camponesa na carroça", Valentin Serov, 1896
"Retrato de Praskovya Mamontov", Valentin Serov, 1889

"Retrato de Semion Petrovitch Chokolov", Valentin Serov, 1887
"Sasha estudando", Valentin Serov, aquarela, 1897

"Alexander Puchkin no parque Bench", Valentin Serov, aguada, 1899

"Retrato de Sophia Botkina", Valentin Serov, óleo sobre tela, 1899

"Retrato de Sophia Dragomirova", Valentin Serov, oléo s/ tela, 1889

"Retrato de Nicolau Posniakov", Valentin Serov, óleo sobre tela, 1910
"Retrato da princesa Olga Orlova", Valentin Serov

"Retrato de Nicolau Rimsky-Korsakov", Valentin Serov, 1898, 94 x 11 cm