quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Johannes Vermeer de Delft

Mulher de azul lendo uma carta, Jan Vermeer, 1662-1663
A obra-prima de Johannes Vermeer, “Mulher de azul lendo uma carta”, pintada entre 1663-1665, que pertence ao acervo do Rijksmuseum de Amsterdã, estará sendo exibida no MASP a partir deste 12 de dezembro. O quadro foi recentemente restaurado, e acaba de inaugurar o novo Museu de Arte da China, em Xangai. No MASP, segundo a organização, a obra ocupará quatro salas especialmente preparadas para ela, no 1º andar. Depois de São Paulo, segue para o Getty Museum, em Los Angeles, EUA, retornando após para Amsterdã para a reabertura do Rijksmuseum, que desde 2003 passa por reforma e ficou parcialmente fechado.

Aqui em São Paulo, esta pintura poderá ser vista até o dia 10 de fevereiro de 2013. O quadro ficará exposto em uma sala, e nas outras três estarão as descrições do processo de restauração, realizada entre 2010 e 2011.
 
O artista Jan Vermeer

Assinatura de Vermeer em seus quadros
Johannes Vermeer nasceu e morreu em Delft, na Holanda, tendo sido batizado em 31 de outubro de 1632.

A Holanda de seu tempo era o país onde mudanças muito importantes se operavam na civilização ocidental. Com a evolução do capitalismo mercantilista e a diminuição do poder do papa após a Reforma Protestante, o pensamento humano passava a substituir a autoridade divina, trocando-a pela experimentação e pela observação do mundo.

O autor do livro “Civilização”, Kenneth Clark, destaca que nesse período a pintura flamenga foi “a expressão visível dessa transformação”. No campo econômico e intelectual aquele país teve grande destaque. Por exemplo, foi o primeiro país a imprimir todos os grandes livros que “revolucionaram o pensamento” humano, como mostra também Clark.

No campo da pintura, Frans Hals (1580-1666) já começara a prática da pintura de retratos de corporações, agrupamentos comerciais ou sociais. Outro pintor holandês, Rembrandt van Rijn (1606-1669), nessa nova onda civilizatória que acontecia na Holanda, pintaria a famosa tela representando os tecelões de Amsterdã. São esses “os primeiros indícios visuais da democracia burguesa”, diz Clark. Era uma forma nova de ver o mundo, mostrando como o homem era capaz de construir seu próprio destino, além de criar seus instrumentos e fazê-los funcionar.

E isso se deu em um dos primeiros centros do capitalismo daquela época, a Holanda. O país possuía um grande porto e era o maior centro bancário da Europa. Além disso, grande centro comercial, um dos maiores do mundo do período. Vivia sua era dourada, inclusive invadindo as praias da minha terra, Pernambuco, por volta de 1630, enviando 60 barcos com mais de 7 mil homens. A riqueza do Brasil atraía as atenções dos capitalistas holandeses, que enviaram depois o conde Maurício de Nassau para assumir o controle holandês sobre o nordeste brasileiro. Mas foram expulsos pelos bravos conterrâneos...


Retrato de René Descartes,
por Frans Hals, 1644
Mas aquele era também o tempo do filósofo francês René Descartes (1596-1650), também físico e matemático. Ele tinha deixado a França e ido morar em Amsterdã. Passou em Haarlem, onde o pintor Frans Hals lhe pintou um retrato (ao lado). Descartes era o pensador cético, que incentivava a dúvida como parte do processo de conhecimento. Dele é a famosa frase “Penso, logo existo” e é o autor do que hoje conhecemos como método cartesiano, esquemática e ordenada forma de estudar e observar as coisas, que foi muito importante inclusive para o avanço da ciência.

Kenneth Clark destaca também como o método de Descartes de experimentação direta da realidade, sem interferências e convenções, recebeu na pintura holandesa a sua ilustração máxima.

E a máxima ilustração de como um artista pode pintar a partir de uma observação cuidadosa do real chama-se Jan Vermeer. Ele não tinha ideias pré-concebidas sobre o que via. Como esse novo pensador-observador, ele pintou uma das paisagens mais iluminadas e realistas de sua cidade, “Vista de Delft”, que até hoje impressiona quem o visita no Museu de Haia. O escritor Marcel Proust, já no século XX, inclui a descrição desse quadro em um de seus textos da coletânea “Em busca do tempo perdido”. 

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Resume assim, Kenneth Clar: Jan Vermeer, além “de nos mostrar a luz da Holanda, ilustra o que Descartes chamava ‘a luz natural da mente’.”

Vista de Delft, Jan Vermeer, 1660-61
A luz natural da mente de Vermeer

Vermeer era daqueles que perceberam “a beleza pura do mundo”, como observa E. H. Gombrich em seu livro “História da Arte”. Ao invés de se voltarem para as belezas do mundo espiritual como orientara por séculos a igreja católica, Jan Vermeer, assim como outros pintores holandeses do século XVII, descobriu a maravilha de pintar a realidade tal qual ela se apresentava.

Ele era um trabalhador lento e meticuloso, diz Gombrich. Diz-se que ele pintou pouco mais de quarenta telas em sua vida. Seus temas nada tinham de magníficos, pois ele pintava as pessoas mais simples, cenas de vida doméstica, interiores de aposentos holandeses, ou mesmo uma mulher solitária despejando seu leite numa vasilha de barro, como no quadro “A leiteira”, pintado por volta de 1658. Gombrich acrescenta: “É difícil explicar as razões que fazem de uma tela tão simples e despretensiosa uma das maiores obras-primas de todos os tempos”.



A Leiteira, Jan Vermeer, 1658-1661
Mas podemos supor que tudo fazia novo sentido dentro da nova conjuntura econômica, social, intelectual e artística da Holanda, pois Vermeer voltava seu cavalete para pintar figuras simples do povo, trabalhadores, donas de casa, empregadas domésticas, ou a vida pequeno-burguesa do seu país. Tudo isso fundindo numa mesma tela uma inigualável precisão com uma extrema suavidade. Seus olhos seguiam o movimento do raio de luz que invadia ambientes e realçava uma cor de tecido, por exemplo.

Como o azul do vestido da moça que lê uma carta nesta tela exposta no Masp. Ou como a luminosidade explícita da “Vista de Delft” com sua perfeita perspectiva dos edifícios e a representação exata da luz.

Pouco se sabe sobre a vida de Jan Vermeer, que, aliás, nunca assinou seu nome dessa forma, mas sempre como Joannes, Joannis ou Johannis, como atesta o autor do livro “Vermeer de Delft, un peintre de sa ville”, Michel van Maarseveen.

Após 1662, observa Van Maarseveen, Vermeer passou a pintar de uma forma ainda mais refinada, onde a representação dos objetos era ainda mais sutil. Essa tendência, onde se poderia perceber a influência do pintor Frans van Mieris - diz o autor - surge em três telas pequenas onde Vermeer representou mulheres atrás de mesas perto de janelas: "Mulher com uma balança", "Colar de pérolas" e o quadro que está no Masp, "Mulher de azul lendo uma carta". As figuras estão atrás de pesadas mesas, entre elas e as janelas. A tela em exposição no Masp também é um dos exemplos de que Vermeer passou a executar pinturas com menos detalhes, menos objetos e a fazer uma clara separação entre a luz e a sombra, como conta Van Maarseveen no livro. 
É também dessa época as pinturas em que ele fez de pessoas tocando instrumentos musicais, como “Concerto”, por exemplo. Nos últimos anos de sua vida, Vermeer também se dedicou a pintar mais quadros com o tema da música.


Biografia incompleta


Seguindo o texto de Michel van Maarseveen, vimos que seus pais, Reynier Jansz e Digna Baltens, tinham uma pousada. Seu pai também era tecelão de seda e depois se inscreveu na Guilda de São Lucas como vendedor de objetos de arte. Somente quem era sócio da guilda podia vender esses produtos. Por causa dessa profissão, Reynier tinha contato com diversos pintores.  Quando Vermeer nasceu, em 1632, seu pai já era negociante de arte, além de dono de pousada. E seus conterrâneos holandeses tinham ocupado minha terra...

Moça com brinco de pérola,
Jan Vermeer
Do período de sua infância e juventude nada se sabe, até seu casamento em 1653, quando ele tinha 21 anos. Mas existiam diversos pintores desse período que podem ter sido mestres do jovem Vermeer: Gerard Ter Borch, Evert van Aelst e principalmente Carel Fabricius, que muitos apontam como tendo sido um de seus mestres. Fabricius tinha estudado com o pintor Rembrandt e se mudou para Delft em 1650. Tirava sua inspiração de cenas cotidianas, como depois o faria Vermeer. Mas Fabricius teve uma trágica e precoce morte aos 32 anos: um arsenal de pólvora explodiu em Delft matando a ele e mais centenas de moradores da cidade em 1654.

O pai de Vermeer morreu um ano antes do casamento do filho, mas sua mãe continuou administrando a pousada até 1669, quando ela tenta vendê-lo em leilão. Não conseguindo, aluga-a e vai morar com sua filha Geertruy até sua morte em 1670. Vermeer herda o albergue.

Casado com Catharina Bolnes em 5 de abril de 1653, ele teve que se converter ao catolicismo, religião da família da noiva. A cerimônia, diz Maarseveen, foi feita por padres jesuítas, com quem Maria Thins, sogra de Vermeer, mantinha boas relações. Algum tempo depois de casados, foram moram na casa de Maria Thins, que sempre ajudou financeiramente a família de Vermeer, apesar de ter sido inicialmente contra o casamento.

Tiveram 15 filhos, sendo que 11 sobreviveram. Uma família numerosa como esta era difícil de manter, com gastos muito grandes. Mas a casa de Maria Thins era suficiente para todos e foi descrita em detalhes, graças ao inventário que foi feito dois meses após a morte dela. No primeiro piso, logo no primeiro cômodo, havia uma tela de Fabricius. Após, uma sala grande com mais dois retratos feitos por Fabricius. Isso demonstra o respeito que Vermeer tinha por aquele que pode ter sido um de seus mestres. Uma cozinha grande e diversos outros cômodos também faziam parte da parte térrea da casa. Entre o primeiro e o segundo piso, havia um com dois ambientes, um deles com a face voltada para o norte, onde Vermeer teria montado seu ateliê. Quando foi feito o inventário do ateliê, a lista constava de: 2 cavaletes, 3 palhetas, 6 pincéis, 3 telas em branco, 1 mesa e 3 armários com inúmeras ilustrações e desenhos.

Durante a vida de Jan Vermeer, a cidade de Delft era cosmopolita, com 25 mil habitantes, muitos artesãos e fábricas de louça e tapeçaria. Delft não só produzia objetos de decoração de luxo, como também era um grande mercado de arte.

A Guilda de São Lucas

No dia 29 de dezembro de 1653, aos 21 anos e pouco depois de seu casamento, Vermeer se inscreveu como mestre na Guilda de São Lucas. Naquele tempo, da mesma forma como os artesãos e comerciantes, os pintores se organizavam em guildas, espécies de sindicato. Ela tinha sido fundada na Idade Média, mas a primeira data de instalação é de 1545. No século XVII era a guilda mais importante e a maior de Delft. Mas ela não acolhia só pintores; lá também estavam pintores de parede, oleiros, gravadores, vidreiros, tapeceiros, escultores, livreiros, impressores e vendedores de objetos de arte. Somente os sócios da Guilda podiam negociar seus produtos em Delft.


O Géografo, Jan Vermeer, 1669
O comitê diretor da Guilda de São Lucas era formado por seis profissionais: dois oleiros, dois vidreiros e dois pintores, cujo mandato durava dois anos. Jan Vermeer foi por duas vezes Mestre da Corporação dos pintores na Guilda. Eleito pela primeira vez em 1662, ele tinha 30 anos de idade, sendo então um dos mais jovens mestres daquela guilda.

A Guilda de São Lucas só foi extinta em 1833. Em 1876, a sede foi destruída para dar lugar a uma escola, que ainda funciona atualmente e recebe o nome de Escola Jan Vermeer.

Morte do pintor

Jan Vermeer morreu no dia 15 de dezembro de 1675. Seu corpo foi enterrado na mais antiga igreja de Delft, a Oude Kerk, onde sua sogra, Maria Thins, havia comprado uma tumba em 1661. Lá também foram enterrados seus quatro filhos que morreram bem pequenos. No registro da igreja consta que Jan Vermeer foi enterrado no dia 16 de dezembro de 1675.

Sua morte foi consequência das dificuldades financeiras que se abateram sobre sua família. Em 1677, Catharina se dirige à Corte da Holanda solicitando a liberação do dinheiro que ela tinha direito por herança. Foi aí que ficou registrado seu depoimento: por causa da guerra contra a Inglaterra e a França que ocorreu em 1672 - conhecido como o ‘ano dos desastres’ - Vermeer, que se mantinha e à sua família como vendedor de quadros, não conseguia mais vender nada. E ele tinha 11 filhos para sustentar. “Seu coração não suportou e ele morreu em menos de dois dias”, ela teria dito. Vermeer morreu de infarto.



Moça com chapéu vermelho,
Jan Vermeer, 1665-66
Sua esposa e filhos ficaram em uma situação muito precária, tendo que recorrer aos serviços públicos de caridade. Além de tudo, a família estava devendo muito. Ela começou a oferecer os quadros do marido para saldar dívidas e manter seus filhos. Com isso, no dia 15 de março de 1677, foi organizado um leilão com 26 obras de Vermeer no salão da Guilda de São Lucas.

Atualmente, observa Van Maarseveen, a maior parte dos quadros do pintor de Delft se encontram em coleções públicas de países estrangeiros. Na Holanda, só o Rijksmuseum de Amsterdã e o Mauritshuis de Haia possuem obras dele. Sua pequena cidade não possui uma única obra de seu mais célebre habitante.

A obra de Vermeer passou quase 200 anos no esquecimento, até que o crítico francês Théophile Thoré a redescobriu em 1860. Desde então seus quadros continuam encantando a todos os que têm o privilégio de observá-los de perto.

Por isso, a única tela exposta no Masp não vem sozinha. Carrega consigo toda a vida, conhecida e desconhecida, do pintor de Delft e de seu tempo.



O Concerto, Jan Vermeer, 1664-1667 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Niemeyer de todos os brasileiros

Ele se foi. Seus sonhos continuam bem vivos em muitos de nós!

Aqui minha homenagem, buscando a arquitetura de seu corpo em curvas:


Viva Oscar Niemeyer, o artista do povo brasileiro!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Edgar Degas, impressionista ma non troppo

Estudo meu sobre o "Retrato de Albert
Melida", de Edgar Degas,
feito em pastel (nov. 2012)
O Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, Paraná, inaugurou no dia 10 de novembro a exposição “Degas: Poesia geral da Ação. As esculturas - Coleção Masp”. O evento faz parte da comemoração dos 10 anos de vida do Museu, que tem a assinatura do arquiteto Oscar Niemeyer.

São 73 obras do artista francês Edgar Degas que pertencem ao Museu de Arte de São Paulo, o Masp. As esculturas são fundidas em bronze e, entre elas, a mais conhecida: “Bailarina de 14 anos” (foto abaixo). Vale ressaltar que o MASP é um dos museus onde há uma das grandes concentrações de obras de Degas, além do Metropolitan de Nova York e do Museu d'Orsay de Paris.

Recentemente fiz um estudo em pastel de uma pintura a óleo deste artista francês, o “Retrato de Albert Melida”. O método de pintura dos impressionistas é pictórico, quase sem linhas, com predominância no valor das cores de médio a alto; também não respeitam muito a forma dos objetos e as massas se fundem, se multiplicam, dando um ritmo luminoso, o que era intenção desses pintores. Alguns levaram essa técnica à radicalidade do pontilhismo, como George Seurat e Van Gogh. Ou praticamente enfatizando os efeitos luminosos das cores sob o efeito da luz, como fazia Monet. Mas não foi o caso de Degas. Ele ficou mais independente, mantendo mesmo uma certa distância do grupo dos impressionistas, mesmo que, segundo E.H. Gombrich em seu livro História da Arte, “simpatizasse com a maioria de seus propósitos”.


Autorretrato, Degas, 1857
Seu nome completo era Hilaire Germain Edgar de Gas, adotando Edgar Degas como nome artístico. Ele nasceu em 19 de julho de 1834 em Paris e foi, além de pintor, gravador, escultor e fotógrafo. Era um pouco mais velho do que Renoir e Monet e regulava de idade com Manet. Gombrich observa que Edgar Degas tinha um interesse “apaixonado” pelo desenho e era grande admirador da obra de Jean-Auguste Dominique Ingres, artista que se manteve sempre fiel à pintura acadêmica.

Degas não aderiu ao costume dos impressionistas de pintar ao ar livre. Preferia o espaço interno de seu ateliê ou as salas de aulas de balé, cujas bailarinas aparecem em muitos de seus quadros. Ele ia aos ensaios de dança para ver os corpos em movimento, que desenhava e pintava. “Via as bailarinas dançando ou repousando, e estudava o intrincado escorço e o efeito da iluminação de cena modelar a forma humana”, aponta Gombrich. Diversos desses esboços foram feitos à pastel. Mas nessas observações das bailarinas ele se comportava como seus amigos impressionistas e pintores de plein air: lhe interessava, mais do que a beleza da bailarina, os jogos de luz e sombra, as formas dos movimentos, as relações espaciais.

A maior parte de suas obras, desde que se busca classificar os pintores dentro de algum movimento, é incluída dentro do movimento impressionista, mesmo que, como vimos antes, ele não era exatamente um deles, porque as principais características do Impressionismo não são aplicáveis a Degas, que pintava dentro de seu ateliê, muitas vezes de memória. O fato dele ser incluído entre os impressionistas seria muito mais pelo fato de que, assim como aqueles, ele também não seguia as regras da Academia Francesa. Muita discussão e debate já aconteceu em torno da obra de Edgar Degas por diversos historiadores da arte, uma vez que seu trabalho como artista não podia ser classificado como impressionista em sua totalidade.


A bebedora de absinto, Degas
Edgar Degas, filho de uma família rica, era o grande burguês do bairro de Montmartre, tradicional reduto de artistas, em sua maioria pobres. Seu pai era banqueiro, e ele cresceu dentro do meio burguês, numa rua próxima do Jardim de Luxemburgo, bairro nobre de Paris. Como parte de sua formação, cursou a faculdade de Direito, por exigência paterna. Mas Degas já se interessava muito por Desenho e começou a frequentar o Gabinete das Estampas da Biblioteca Nacional, onde copiava incansavelmente as obras de Albrecht Dürer, Andrea Mantegna, Paul Veronèse, Francisco Goya e Rembrandt.

Além disso passava as tardes no museu do Louvre onde, com o tempo e sua evolução como artista, foi admitido como pintor copista, uma prática que ainda hoje se mantém. Ele admirava os pintores italianos, franceses e holandeses. Foi aluno, entre outros, de Louis Lamothe, que tinha estudado pintura com Ingres. O pai de Degas, homem culto e amante das artes, mas também bom comerciante, apresenta ao filho alguns dos maiores colecionadores de arte de seu tempo.


A partir de 1855 ele frequenta as aulas da Escola de Belas Artes de Paris, mas com a ideia de se aproximar da obra dos grandes mestres do passado, como Luca Signorelli, Sandro Botticelli e Rafael. Por causa desse interesse, Degas viajou várias vezes à Itália entre 1856 e 1860. Foi em Florença que ele conheceu e se tornou amigo de um outro pintor francês, Gustave Moreau, que foi um dos principais representantes da corrente simbolista na pintura francesa.

Em sua fase inicial, Degas fez diversas pinturas de inspiração neoclássica, além de ter pintado numerosos retratos de pessoas de sua família. Na guerra contra a Prússia de 1870, Degas se alista na infantaria. Entre 1874 e 1886 Degas participa das exposições dos impressionistas, empenhando-se pessoalmente na organização das mesmas. Seus contatos com outros pintores da mesma geração se estreitam, especialmente com Camille Pissarro.


As bailarinas, 1878, Degas
Edgar Degas era um frequentador ativo do bairro de Montmartre, participando de diversos círculos de amigos, de ateliês, de cafés literários e de encontros sociais organizados por outros artistas e intelectuais de sua época, reunindo-se na casa da família Manet, na da pintora Berthe Morisot e na do poeta Stephane Mallarmé. À frente de outros burgueses como ele, seus amigos íntimos, ele levava uma vida celibatária e algo arrogante. No que dizia respeito aos princípios aprendidos em sua família de origem, era intransigente, e em muitas querelas batia de frente com os amigos. Tinha uma personalidade difícil, humor mordaz, agressivo, o que afastava as pessoas de seu convívio. Mas participava ativamente das discussões que aconteciam no café Guerbois, entre artistas jovens e seu amigo Edouard Manet, cujo ateliê ficava perto, no bairro de Montmartre.

Desde 1875, a pintura foi para ele sua fonte de renda, quando ele começou a ter dificuldades financeiras. Sua família tinha entrado em falência após a morte de seu pai. De 1880 em diante, ele passa a usar mais o pastel em sua pintura, algumas vezes usando junto também tinta guache e aquarela. As telas dessa época são bastante modernas no sentido de dar maior expressão às cores. No final dos anos 1890, Degas, já quase cego, se dedica cada vez mais à escultura. Sua única exposição individual aconteceu em 1892, quando ele apresentou 26 telas com paisagens.


De 1905 em diante, cada vez mais amargurado pela cegueira que lhe acometeu, Edgar Degas se isola ainda mais dentro de seu ateliê. Morreu em setembro de 1917, com 83 anos de idade, acometido de um aneurisma cerebral. Seu corpo foi sepultado na tumba da família no cemitério de Montmartre. No ano seguinte, todas as obras acumuladas em anos de trabalho, que ele guardava em seu ateliê, foram vendidas em leilão, assim como sua importante coleção de obras de arte que ele tinha adquirido de outros artistas. Dessa coleção, dedicada especialmente à arte francesa do século XIX, se destacavam obras de Ingres e Delacroix, dois mestres por quem Degas tinha grande admiração não só por sua técnica mas também pela cultura artística que eles possuíam.




A pequena bailarina de 14 anos,
Degas, acervo do Masp
Ingres influenciou profundamente o jovem Degas. Ele tinha 21 anos de idade quando conheceu o mestre em seu ateliê. Em seguida, passou a copiar apaixonadamente as obras apresentadas em uma exposição retrospectiva consagrada a Ingres. O primeiro autorretrato de Degas faz referência clara ao que Ingres fez em 1804, como se pode ver neste post. O próprio Ingres lhe teria sugerido que desenhasse, que desenhasse muito, e ele seria um bom artista. Degas estava sempre com um porta-lápis à mão. Até o fim de sua vida, Degas mantinha o costume de fazer desenhos preparatórios e esboços para seus trabalhos. Praticava inclusive desenho de modelo vivo, a vida toda. Sempre respeitando o que lhe havia sugerido o grande mestre Ingres.

Em relação a Eugène Delacroix, Degas também era um admirador de sua pintura, chegando a fazer uma cópia do quadro de Delacroix “Entrada dos cruzados em Constantinopla”. Em 1889, viajou a Tanger, seguindo os passos do pintor Delacroix, que era apaixonado pela cultura do norte da África.


Um de seus inúmeros esboços
As bailarinas azuis, 1899, Edgar Degas
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Serviço:

“Degas: Poesia geral da ação. As esculturas – Coleção MASP”
De 10 de novembro de 2012 a janeiro de 2013
Museu Oscar Niemeyer
Curitiba - Paraná