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domingo, 16 de dezembro de 2012

Leonid Romanovich, o pintor bailarino

Galeria Tretyakov de Moscou, Rússia
Enquanto a presidenta Dilma Roussev passava pela Rússia esta semana, o Museu Tretyakov de Moscou apresentava várias grandes exposições. Sabemos que as artes plásticas na Rússia mostram como inúmeros pintores daquele país dominavam, e dominam até hoje, a técnica do óleo, da aquarela, do carvão, do simples desenho à grafite. Desde os primeiros pintores de ícones, em especial Andrei Rubliev - que teve um filme sobre sua vida feito por Andrei Tarkovsky - os artistas russos são impressionantes por sua sofisticada técnica que cria belíssimas obras de arte.

Mas nós, especialmente aqui no Brasil, pouco conhecemos sobre os artistas russos. Nosso conhecimento sobre as artes plásticas fica praticamente restrito à arte europeia e dos EUA. Sabemos pouco sobre a África, Ásia, Oceania e até mesmo sobre nossos artistas latino-americanos. A arte russa teve uma importância fundamental na história da arte, especialmente após o século XIX e princípios do século XX.


Fotografia de Leonid Romanovich na mostra da
Galeria Tretyakov, Moscou
Um destes artistas cujas pinturas estiveram em exposição em Moscou desde o dia 19 de outubro é Leonid Romanovich Astafiev, cuja arte sempre esteve ligada à cultura russa tradicional. A vanguarda russa foi um movimento artístico cultural muitíssimo importante não só para a cultura russa, mas para toda a cultura ocidental do século XX. Pudemos ver um pouco disso na exposição Virada Russa que ocorreu aqui no Brasil (São Paulo, Rio e Brasília) em 2009 (Leia mais aqui).

Um dos objetivos deste Blog é trazer informações e conhecimentos sobre todos os artistas que possamos conhecer e cuja qualidade artística seja relevante, sob nosso ponto de vista. Por isso, enquanto a presidenta do Brasil viajava por Moscou, fizemos uma busca do que de importante acontecia naquela cidade. Muitas exposições importantes ocorrem na Rússia. Escolhemos esta, pelo fato do artista ter sido bailarino e restaurador de obras de arte.


Flores, óleo sobre tela de Astafyev
Leonid Romanovich Astafyev nasceu em 1931, em uma família cuja história está ligada à Galeria Tetryakov de Moscou. Seu pai era restaurador na Galeria até pouco antes da II Guerra Mundial e por causa disso sua família morava em uma ala da galeria. Leonid cresceu em meio a este mundo de obras de arte, e os salões e oficinas que ocorriam lá era parte de sua realidade diária. A pintura tradicional russa foi formando sua percepção artística e ainda muito jovem ele já tinha pontos de vista bastante maduros sobre arte.

Em 1948 Leonid Romanovich Astafyev passou a estudar na Escola de Arte Regional de Moscou intitulada “Em memória de 1905”. Os tempos eram o da União Soviética. Muitos campos de interesse atraíam o jovem Leonid, mas tinha um interesse especial pelo balé, que acabou escolhendo como prática principal, deixando seu professor de pintura chateado, pois o rapaz era também um grande pintor de paisagens.

Após a formação na Escola de Arte Regional, Astafyev entra para uma classe experimental de dança da escola de coreografia do Teatro Bolshoi (atualmente Academia de Balé Bolshoi). Muitos queriam estudar lá, e os testes eram bem difíceis. Mas Leonid conseguiu e, de 1953 a 1956, ele frequentou as aulas de balé, assim como fazia estudos de História da Música e do Teatro. Essa experiência dentro do Teatro Bolshoi, segundo afirma o texto de apresentação no sítio da Galeria Tretyakov, influenciou a visão de arte de Leonid Romanovich.


Paisagem, de Astafyev
Mas ele também amava muito a pintura, e acabou mesmo se dedicando a ela. Em 1956 foi escolhido como restaurador no departamento de restaurações de imagens da Galeria Tretyakov, onde trabalhou até o fim da vida.

Os restauradores da Tretyakov são considerados grandes especialistas em arte, muitos deles trabalhando dezenas de anos só na restauração de pinturas. Pelas mãos de Astafyev passaram inúmeras obras para serem restauradas. Ele também acompanhava exposições de arte pelo país e no exterior. Com essas viagens, conheceu grande número de cidades da União Soviética de seu tempo, assim como inúmeros países. Conheceu e se tornou amigo de muitos restauradores, peritos, museólogos, artistas.

Como restaurador, ele aperfeiçoou e criou novas técnicas de restauração de obras de arte, que utilizou, por exemplo, na restauração da obra “Ivan o Terrível e seu filho”, do outro grande pintor russo Ilya Repin. Pela enorme qualidade de seu trabalho, Leonid Romanovich Astafyev ficou respeitado internacionalmente como restaurador. Por seu trabalho, foi premiado com a mais alta categoria de artista restaurador e recebeu também o prêmio “Trabalhador honrado da Cultura” da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a ex-URSS.


Paisagem, de Astafyev
Mas Leonid Romanovich não era só um restaurador. Era um grande e talentoso artista. Pintores importantes da época, como I.I. Levitan, K.A. Korovin, V.D. Polenov e V. A. Serov foram seus professores.

Suas paisagens tranquilas nos mostram como o artista se deixava envolver pela beleza do mundo a seu redor. Beleza do mundo que para ele era a Arte, sob a qual girava sua vida desde seu nascimento.

A primeira exposição individual de Leonid Romanovich aconteceu na Galeria Tretyakov somente em 2005, após sua morte. Depois desta, mais três aconteceram em outros museus russos. Suas obras estão nos acervos da Galeria Tretyakov, no Museu Estatal de Darwin e no Museu Histórico-Artístico de Dolgoprudny, assim como na coleção da Embaixada Russa de Jacarta, Indonésia, e em coleções particulares.

Leonid Romanovich Astafyev morreu em 2004.


Paisagem em óleo de Leonid Romanovich Astafyev
Paisagem, óleo de Leonid Romanovich Astafyev

terça-feira, 11 de julho de 2017

Colóquio na UnB sobre Realismo nas artes


O professor Alexandre Pilati (UnB), o ator Sergio Audi,
o escritor Jeosafá Fernandes e eu, Mazé Leite, na Mesa do dia 6 pela manhã
Com uma grata surpresa e me sentindo muito honrada, fui convidada a participar como palestrante do IV COLÓQUIO INTERNACIONAL “O REALISMO E SUA ATUALIDADE: ARTE, CULTURA E O CENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO”. O evento aconteceu na Universidade de Brasília nos dias 5, 6 e 7 de julho. 

Este evento ocorre anualmente há quatro anos e reune intelectuais acadêmicos de universidades como a USP, Unesp, Unicamp, UFRJ, UFF, UFG, UFRGS, UnB, entre outras, incluindo a Universidade de Buenos Aires, Argentina. São professores e alunos de graduação e pós-graduação da UnB os organizadores deste importante Colóquio, como os professores doutores Alexandre Pilati, Ana Aguiar Cotrim, Ana Laura dos Reis Correa e Ignacio Koval.

Em breve publicarei aqui o texto integral da minha palestra, intitulada “Realismo e Vanguarda”. Mas aqui vai um breve resumo: 

A pintura Realista do final do século XIX, cujo movimento principal foi o grupo Os Itinerantes, inspirou os movimentos de Vanguarda do início do século XX na Rússia. Era parte de um movimento mais amplo de mudanças que ocorriam naquele país, inclusive no campo da cultura. Era o questionamento dos métodos e pensamento da Academia de São Petersburgo e era um voltar-se mais para dentro de seu país. Os artistas da vanguarda russa que participaram ativamente do processo revolucionário de 1917, por seu turno, também questionavam os métodos clássicos de pintura, inventando novos meios, novas formas de se expressar. Os russos criaram a Arte Abstrata, o Suprematismo e o Construtivismo, além de muitos outros movimentos de estética artística. Inovaram o design gráfico e a arte de propaganda política que influenciou todo o globo. 

Em 1934 a arte passa a ser submetida ao controle estatal, por ocasião do I Congresso dos Escritores Soviéticos, quando Maximo Gorki e Andrei Zdanov anunciaram, a uma plateia internacional, o início oficial da vigência do Realismo Socialista como estética para as artes: a arte deveria ser, a partir de então, “socialista em seu conteúdo e realista em sua forma”. No que diz respeito às artes plásticas, este período da pintura russa era muito mais “idealista” do que realista. Mas deu muito o que pensar a artistas, críticos e intelectuais desde então.

Desenvolvi meu pensamento nesta linha, que irei publicar em breve na revista “Princípios”, da Fundação Maurício Grabois e os organizadores do Colóquio da UnB também irão publicar em livro todas as palestras do evento, que deverá ser lançado no começo de 2018.

Da minha parte, continuo minha pesquisa sobre a arte russa de todos os períodos, que continuarei publicando neste Blog, em especial neste ano de 2017 quando comemoramos uma efeméride: os 100 anos da Revolução de 1917 que mudou a face do mundo.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A arte russa do século XX - o Realismo Socialista - FINAL

"Pomar em flor", Alexandr Gerasimov, 1935
óleo sobre tela, 124 x 133cm, Coleção privada
Há ainda hoje um profundo desconhecimento sobre a arte russa do século XX a partir de 1930, eivado de observações com viés ideológico de forte caráter emocional. Desde a Guerra Fria, tudo o que diz respeito à arte da URSS tem sido estereotipado, rejeitado, subestimado… Estas são observações do crítico e pesquisador inglês Matthew Bown, autor do livro “Realism Socialist Painting”.

Há anos esta questão me intrigava: por que se diz - inclusive entre a esquerda - que era tão ruim a arte russa do Realismo Socialista?

- “Porque foi imposta... arte doutrinária... dirigismo”... são críticas bem comuns de se ouvir.

Mas... isso não é uma novidade no mundo da arte! A arte bizantina foi uma estética imposta; boa parte da arte do Renascimento foi dirigida pela Igreja, que contratara os melhores artistas para produzirem arte de propaganda religiosa; a arte acadêmica francesa era tão imposta que Gustave Courbet e depois os pintores Impressionistas tiveram que enfrentar seus teóricos e militantes para ter liberdade de pintar outros temas e de outra maneira; o maior dirigismo artístico aconteceu nos EUA que impôs a arte abstrata como estética desde o final da década de 1940; o sistema da arte contemporânea - na atualidade - impõe a arte que interessa ao mercado, que lucra bilhões de dólares com ela, escolhendo aqueles artistas que se enquadram em seu sistema e se curvam à sua estética… Então!

Então a crítica à arte russa pós-1930 usando esses argumentos, é, no mínimo, desconhecimento da história da arte, e da manipulação da arte feita pelo próprio capitalismo…

Capa do livro
Em 2008, 2010 e 2017 pude ver de perto - em viagens a Berlim, Varsóvia e Londres - exposições sobre arte soviética. E o que vi, vai muito além do conceito de “arte de propaganda”, reforçando minha convicção de que até mesmo a esquerda se deixa influenciar pela propaganda ideológica iniciada na Guerra Fria...

Nesse meio tempo, tive acesso ao livro “Realism Socialist Painting” publicado em 1998 por um professor da Yale University de Londres, nada comunista, nada marxista… O livro, além de um texto denso, possui 544 ilustrações. Matthew Cullerne Bown tem se dedicado à pesquisa sobre a arte russa, sendo considerado uma autoridade atual no assunto. É autor de mais dois livros: “Contemporary Russian Art” e “Art under Stalin”.

Em “Realism Socialist Painting”, logo nos primeiros parágrafos, dei com os olhos na seguinte afirmação do autor: “a história do Realismo Socialista é a história de um extraordinário movimento de arte do século XX”.

Ele propõe uma visão sobre a arte soviética que vá além da arena político-ideológica, criticando o fato de que todos os que se debruçaram sobre o tema, sempre foram muito mais guiados pelo viés político. A começar pela publicação, já em plena Guerra Fria, de um livro de autoria de Konstantin Umanski, a partir do qual foram se criando narrativas homogêneas “a fim de dar a impressão de que a arte da Vanguarda tinha sido a única contribuição russa para a arte do século XX” (Bown). Esta posição foi reforçada pelo livro da inglesa Camilla Gray, “Experimento. Arte russa” publicado em 1962, que gerou grande quantidade de publicações, onde se admirava a Vanguarda Russa como baluarte da arte do século XX. Ele analisa detalhadamente a opinião de vários desses autores, discordando de todos.

"Moça com camiseta de futebol"
Alexandr Samokhvalov, 1932
óleo e têmpera sobre tela
102 x 64cm, Museu Estatal
Russo de São Petersburgo 
Diz Matthew: “É correto e razoável ligar a vanguarda russa com a ocidental. Mas a exclusão da arte soviética de depois de 1922 por um número enorme de ‘histórias da arte’ do século XX, equivale a uma significativa deformação da nossa história da arte”.

Mas Bown cita também a tese do filósofo Boris Grois, segundo o qual a arte russa, sob Stalin, “foi, em última análise, responsabilidade dos artistas da vanguarda” que tinham um discurso artístico-político dentro do qual cada decisão concernente à construção estética do trabalho artístico era avaliado como uma decisão política e vice-versa. Grois afirmou que “a estetização da política, no que diz respeito às lideranças do Partido, era apenas uma reação à politização da estética”. Os futuristas soviéticos, assim como os outros artistas de vanguarda, se inspiravam nas ideias de revolucionários como Anatole Lunacharsky. “Não o contrário”, diz Bown. Lembre-se de que as ideias de Lunacharsky sobre arte incluía a defesa de uma arte de classe, plenamente identificada com o proletariado em processo revolucionário.

Mas até o final da II Guerra havia um certo flerte dos norte-americanos em relação à URSS, incluindo o Realismo Socialista. Clement Greenberg, influente crítico de arte que depois se tornaria agente da CIA, no começo dos anos 1930 nutria simpatias pelo Socialismo. Também como ecos do coletivismo pregado na URSS que dava apoio estatal para os artistas, o governo dos EUA criou também o “Federal Art Project”, que passou a dar apoio financeiro a milhares de artistas norte-americanos. Diego Rivera, artista mexicano e comunista declarado, recebeu apoio nos EUA para criar uma série de murais onde apareciam Lenin e outros líderes marxistas. “Apesar disso ser tão surpreendente…”, observa Bown.

No mundo das histórias em quadrinhos surge nos EUA, em 1930, a figura do Superman, que compartilha com as imagens do Realismo Socialista as ideias sobre o “Novo homem”, o Super Homem, másculo, ativo, que apontava para o alto e para além, o defensor dos fracos… e que possui uma capa… vermelha!

O embaixador dos EUA em Moscou, na década de 1930, Joseph Davies, se tornou - segundo Bown - o maior colecionador individual de pinturas do Realismo Socialista. Através dele e de outros, como o artista ex-futurista David Burlyuk, a arte soviética se tornou conhecida nos salões de Nova Iorque, onde convidados apresentavam essa arte para amplas audiências norte-americanas.

Mas Greenberg publicou um ensaio em 1939 intitulado “Vanguarda e kitsch”, onde define a cultura dominante na URSS - o Realismo Socialista - como kitsch, assim como o cinema de Hollywood da época. Mas Greenberg, diz Bown, “parece ter reconhecido que tal arte foi capaz de alcançar um alto grau técnico”, uma arte que falava às massas, com quem tinha “empatia”.

É preciso lembrar que até o começo da Guerra Fria, os artistas norte-americanos tinham liberdade de expressão. Após a II Guerra, em solo norte-americano “arte realista era arte comunista”; e eram perseguidos, no período do macartismo, os artistas que se identificassem com isto. Acrescenta Matthew Bown: “Na América e Europa Ocidental predomina a Abstração, promovida pelos críticos (e pela CIA, pelo Conselho Britânico e por outros órgãos governamentais) como metáfora de liberdade e de predomínio da individualidade. Enquanto na URSS, o Realismo Socialista reivindicava o predomínio da coletividade e da responsabilidade social”.

A campanha anti-soviética se espalhou no final dos anos 1940 e “moldou as atitudes ocidentais em relação ao Realismo Socialista desde então.”

"Amigas", Fedor Sychkov, 1930,
81 x 68cm, coleção privada
O consenso criado entre os críticos de arte era o de que a arte contemporânea "importante" é aquela cujas características estão intimamente associadas ao Modernismo, que possuiria, este sim, uma visão "original”. Esse consenso incluiu artistas e intelectuais de esquerda.

Em 1990, Igor Golomstock, um russo emigrado, publicou o livro “Arte totalitária” que inaugurou a moda de ligar a arte russa e a imagem de Stalin ao totalitarismo, informa Matthew Bown. “Mas”, diz ele, “dispenso o modelo totalitário, porque é pouco útil para desvendar a arte soviética”. Falar de “totalitarismo” em relação à arte soviética, segundo ele, reduz a pesquisa e restringe a investigação, simplificando “demais os debates sobre a forma artística que permaneceu em atividade durante todo o período soviético”, de 1930 até o final de 1980.

O professor Bown se diz contrário a avaliar o Realismo Socialista como um monolito imutável. A arte pictórica produzida na URSS não estava restrita àquela que depois ficou conhecida no Ocidente: punhos erguidos para o alto, retratos de Stalin. Ele afirma que o controle maior sobre a arte, por parte do Estado soviético, estava mais restrito às grandes cidades como Moscou e São Petersburgo. No país inteiro artistas produziam fertilmente. “A pintura do Realismo Socialista, amplamente definida, compreende um excelente movimento do nosso século na pintura realista”, diz Bown, que segue: “Ela envolve o patrocínio da pintura realista numa escala incomparável em qualquer lugar do mundo e engaja, por décadas, o talento de milhares de artistas através de um vasto e multiracial império”. 


“Dia de sol”, Mai Dantsing, 1965, óleo sobre tela, 188x208 cm, Coleção privada
Como surgiu o Realismo Socialista

A Rússia do começo da década de 1930 era um país em reconstrução. Havia passado por anos de guerra civil, por períodos de fome generalizada. Stalin defendia a necessidade urgente da industrialização do país e da construção de instrumentos sólidos de defesa militar contra os ataques que viriam.  A produção industrial e agrícola aumentou ao longo do período. O racionamento de alimentos básicos foi revogado em 1935. Em discurso ao I Congresso de Todos os Sindicatos Stakhanovitas em novembro, Stalin estabeleceu o tom oficial da década, pronunciando a notória frase: "A vida melhorou, camaradas, a vida ficou mais alegre". 

O termo “Realismo Socialista” apareceu pela primeira vez em maio de 1932 na revista “Novo Mundo”, principal fórum de discussão teórica. Em 26 de outubro, em um encontro entre escritores e Stalin realizado na casa de Maximo Gorki, os princípios do Realismo Socialista foram expostos com algum detalhe. Bown diz que entre 1932 e 1934 foram publicados 64 artigos sobre o tema, o que mostra o amadurecimento do debate sobre o assunto. Em 1933, o próprio Gorki publicou o ensaio "Sobre o Realismo Socialista". 


"A Mãe", Alexandr Deineka, 1932,
óleo sobre tela, 20 x 159 cm,
Galeria Tretyakov
Em 1934, no I Congresso dos Escritores Soviéticos, realizado em Moscou, Andrei Zdanov, Gorki e Igor Grabar apresentaram o Realismo Socialista a uma audiência internacional. A composição dos delegados a este Congresso, segundo Bown, era: 27% de operários; 43% de camponeses; 13% de intelectuais; outros grupos sociais e convidados estrangeiros, completavam os outros 17%.

Mas enquanto isso ocorria, a vida artística fervilhava. 

Em abril de 1932, um Decreto do CC do PCUS havia fundado a União Nacional dos Artistas Soviéticos. Também foram criados comitês municipais de artistas em Moscou e Leningrado inicialmente e, nos anos seguintes, em outras regiões do país. Nesse novo contexto, encerrava-se o antagonismo entre os diversos grupos e se criava uma força dominante no mundo da arte. O comitê municipal dos artistas de Moscou, o mais importante, reunia artistas de várias categorias, não só pintores. Era um verdadeiro “corpo de elite” - observa Bown - e durante a década de 1930 havia mais artistas deixados de fora dele do que aceitos, tal era o nível artístico dos membros da União Nacional. Em 1933, esta entidade já contava com cerca de 600 membros. Em 1937, as uniões municipais chegavam a abrigar cerca de 2.500 artistas.
Detalhe de “Trabalhador
do setor energértico”, Isaac Brodsky,
1932, óleo sobre tela, 98x125 cm,
Museu Brodsky de São Petersburgo

A União Nacional dos Artistas Soviéticos era também um fórum de debates, onde as orientações da direção do Partido eram transmitidas. Seu conselho era eleito por uma reunião geral de membros, mas a lista dos candidatos ao comando principal era elaborada pela fração partidária dos artistas. Durante a década de 1930, esses nomes eram confirmados pelo Politburo, o Comitê Central. Pela sua importância, o comitê municipal de Moscou seguia as mesmas regras. 


Quinzenalmente realizava-se em Moscou assembleias de artistas em que seus trabalhos eram avaliados. Eram um evento significativo na vida artística da capital que reunia pintores e críticos bem conhecidos. As pinturas eram exibidas num palco e ficavam sujeitas às críticas da assembleia. Vladimir Kostin, um dos artistas, descreveu o evento como extremamente popular e respeitado, verdadeiras aulas de pintura.

A reorganização da educação artística nacional começou em meados de 1932. Em um discurso para os diretores de escolas de arte no verão daquele ano, Arkadev, chefe do departamento de arte da União, pediu um retorno aos métodos tradicionais de educação artística e disse: "Nós não precisamos de artistas que não conseguem desenhar". 

Em outubro do mesmo ano, foi reorganizada a Academia de Artes, que incluía: um Instituto de História da Arte, um Museu, uma Biblioteca e diversos laboratórios. Um decreto de abril de 1933 definiu a nova Academia como "uma instituição de pesquisa científica e científico-consultiva no campo das artes visuais e espaciais, e também uma instituição para a preparação de quadros artísticos com maior qualificação."

Os métodos soviéticos de ensino de arte foram moldados para produzir pintores com alta formação técnica, o que deveria também “elevar a criação da mais brilhante escola de pintura realista do século XX”, completa Matthew Bown.

Realismo Socialista?


"União em Sebastopol", Georgi Nisski, 1935,
óleo sobre tela, 77 x 101 cm,
Museu de Arte de Nizhni-Novgorod
O próprio termo é contraditório. Segundo seus teóricos, seria uma arte "realista em forma e socialista em conteúdo". Realista significa fidelidade à verdade, ao real. Socialista significava com “conteúdo de classe” e em convergência com as ideias do Partido. O objetivo era influenciar o pensamento, o sentimento e o comportamento das massas numa remodelação e reeducação do povo no espírito do Socialismo. As palavras Pravda - Verdade - e Pravdivost - Verdadeiro - se tornaram temas de amplos debates. Muitos deles referindo-se aos princípios do grupo “Os Itinerantes” do século XIX, e pintores realistas, entre eles Ilya Repin. 

Mas o conceito em si era pleno de idealismo!

Logo se viu que havia uma contradição no termo “realismo socialista”, pois a orientação era mostrar o futuro brilhante que o Socialismo traria. Mantinha a visão utópica, eivada de "romantismo revolucionário" e de um otimismo obrigatório. Gorki, Jdanov, Brodsky e Lunacharsky faziam esforços conceituais para dar coerência ao termo. Defendiam que Realismo, no caso, era ter uma visão "dinâmica" do mundo. Não era a busca da documentação da realidade como ela era, mas pintar a verdade sobre um país em mudança, ou seja, uma “verdade em movimento”.

Dinamov, em seu discurso para artistas de Moscou em 1932, disse: "Precisamos de realismo, mas não na compreensão pedante da palavra. Queremos que o artista retrate não só o que é, mas o que será”. Na tentativa de resolver essa contradição, Gorki defendia a necessidade de olhar para a vida atual "desde o auge dos grandes objetivos do futuro". E Jdanov: a realidade "em seu desenvolvimento revolucionário". E Lunacharsky: “Uma pessoa que não entende o desenvolvimento nunca verá a verdade, porque a verdade não se parece a si mesma, ela não fica quieta; a verdade flutua, a verdade é desenvolvimento, a verdade é conflito, a verdade é luta, a verdade é amanhã e assim deve ser vista. Quem não vê isso assim é um realista burguês”...

O romantismo revolucionário - também ressuscitando as ideias românticas do século XIX - se tornou um componente natural: a arte deveria inculcar amor pela vida e inspirar o sentimento da espera apaixonada pelo futuro.

“Embora fosse, é claro, um meio de justificar e fortalecer a propaganda partidária, o poder desse Utopismo - tanto seu poder sobre os artistas quanto seu poder sobre o público - decorreu do fato de que também era um reflexo dos sonhos e dos esforços das pessoas, que sofreram e aguentariam enormes privações na esperança de um amanhã melhor”, explica Matthew Bown.
“Marusia – uma mulher dos anos 1920”, Geli Korzhev, 1983,
óleo sobre tela, 97x226 cm, Coleção privada

Desenvolvimento da arte soviética


Em 1932, a retomada do funcionamento da Academia de Artes de Leningrado (São Petersburgo) e do Instituto de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou serviram, por si sós, a dar um tremendo fôlego à formação artística de jovens russos. Duas outras grandes cidades também criaram suas próprias escolas de arte, como Kiev e Tbilisi. Estes estudantes tornaram-se objeto de especial atenção no mundo da arte, inclusive fora do país. Havia exposições públicas anuais de suas obras, em museus, fábricas, galerias, lojas. O Museu Pushkin e a Galeria Tretyakov receberam essas mostras; em uma delas participaram cerca de 500 artistas.

Além disso, nas maiores cidades também surgiam escolas de arte destinadas a crianças maiores de 12 anos, preparatórias para entrar nos grandes institutos de Moscou e Leningrado. “Igor Grabar observou em um artigo de 1940 que estudantes destas escolas já estavam realizando composições profissionais aos 14 anos de idade”, observa Bown.

Emissários eram enviados para descobrir talentos jovens em todo o país. Um dos exemplos mais notáveis ​​foi o do jovem Stepan Dudnik, um órfão que, na década de 1930, estava fazendo trabalho pesado na construção do Canal do Mar Branco. Sua aptidão para o desenho foi notada e, com a ajuda de Gorki, ele foi enviado para fazer o curso de pintura no Instituto de Moscou. 

Matthew Bown destaca que a origem social desses artistas estudantes era 80 a 90% feita de trabalhadores e camponeses. A presença camponesa ainda era preponderante e, por causa disso - aponta o professor - nota-se a grande quantidade de pinturas de paisagens ou cenas da vida no campo.

"Um camponês", Vassili Yakolev, 1942,
óleo sobre tela, 65 x 50 cm,
Galeria Tretyakov
Sob direção do pintor Isaac Brodsky, em 1934, a Academia de Leningrado mantinha o método de instrução acadêmica bastante rigoroso, com particular ênfase no desenho. O sistema de ensino era baseado na observação da natureza e também nos estudos com modelo-vivo, considerado elemento central no processo educacional. A mesma diferença de abordagem na formação entre a Academia de Leningrado e  o Instituto de Pintura de Moscou, que se iniciara no século anterior, permaneceu: a Academia enfatizava a disciplina do desenho acima de tudo, enquanto Moscou enfatizava as qualidades pictóricas, com ênfase na pintura tonal e na prática da "pincelada ampla".

Em dezembro de 1939, por ocasião do 60º aniversário de Stalin, foi criado o Prêmio Stalin, que pagava até 100 mil rublos por trabalhos destacados nas ciências e nas artes. Isso era um incentivo excepcional para os artistas, que também já recebiam inúmeros pequenos outros prêmios e até mesmo bolsas de estudo para sua formação nas grandes escolas de arte.

Com tanto incentivo, alguns artistas mais premiados, montaram seus estúdios, muitos com aquecimento central e acessíveis por elevador, nos prédios da rua Maslovka, que aglutinava muitos desses ateliês e era uma verdadeira colônia de artistas em Moscou. Claro que havia escassez de material de arte, coisa que mereceu um artigo no jornal Pravda...

Grandes exposições de arte ocorreram entre 1932 e 1939, incluindo duas internacionais: em Paris (1937) e Nova Iorque (1939). A grande exposição da década, intitulada "A indústria do Socialismo", inaugurada em Moscou em 1939 atraiu dezenas de milhares de pessoas. Foi um enorme evento de arte, onde os artistas apresentaram também imensos paineis e murais, além de centenas de pinturas de todos os formatos. Em 1942 havia sido marcada uma exposição organizada por todos os sindicatos intitulada "Nossa terra nativa" destinada a marcar o 25º aniversário da Revolução. Nela, os artistas tinham livre escolha dos temas. Mas a II Guerra impediu sua realização.

Matthew Bown faz um profundo estudo sobre a arte soviética que alcança até o final dos anos 1980. Mas nos focamos em sua pesquisa sobre os anos 1930, com o intuito de informar que, muito além da imposição de uma estética para as artes, as políticas culturais do governo soviético naquele período causariam inveja a qualquer artista de país capitalista!


O tremendo movimento de arte pictórica realizado na URSS até 1989 é um evento a ser resgatado por historiadores de arte, pesquisadores e artistas. Inclusive para rever o que foi a verdadeira campanha internacional de degradação da arte do Realismo Socialista que atingiu até mesmo os comunistas. Não é possível incluir no mesmo caldo, de forma monolítica, toda a arte produzida naqueles país durante 70 anos! Enterrar o empreendimento criativo de artistas individuais e rebaixá-los dentro do mesmo edifício crítico e curatorial desta visão reducionista é, no mínimo, leviandade acadêmica.

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Referências bibliográficas:
BOWN, Matthew Cullerne. Realist Socialist Painting. Londres: Yale University Press. New Haven & London. 1998.

GRAY, Camilla. O Grande Experimento. Arte Russa 1863-1922. São Paulo: Worldwhitewall Editora Ltda. 2004.
FERNANDES, Luís. Revolução Bipolar. São Paulo: Editora Anita Garibaldi. 2017.
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ABAIXO, MAIS ALGUMAS IMAGENS DE OBRAS DO REALISMO SOCIALISTA:


Dom Quixote e Sancho Pança, Geli M. Korzhev, 1984, ost, 108 x 226 cm, Coleção privada

A compositora, Nicolai Leventsev, 1969, ost, 89 x 130 cm, Coleção privada


"Campos em paz", Andrei Mylnikov, 1950, óleo sobre tela, 200x400 cm,
Museu Estatal Russo de São Petersburg
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Banho, Maiya Kopyttseva, 1960, ost, 119 x 135 cm, Coleção privada


“À janela”, Alexandr Romanychev, 1968, óleo sobre tela,
119x99 cm, Coleção privada
O vale de Ararat”, Martiros Saryan, 1945, óleo sobre tela, 96x128 cm,
Museu Estatal de Artes dos Povos do Leste, Moscou

"Moça de bicicleta em uma fazenda coletiva", Alexandr Deineka, 1935, óleo sobre tela, 120 x 220 cm, Museu Estatal Russo de São Petersburgo
"Maternidade", Vasili Pochitalov, 1939
39,5 x 48,5cm, Museu de Artes Visuais de Kostroma
"O aeroplano ANT-20 Maximo Gorki", Vasili Kuptsov, 1934, óleo sobre tela,
110x121 cm, Museu Estatal Russo de São Petersburgo

"Um trator para trabalho na floresta", Arkadi Rylov, 1934,
135x187 cm, Galeria Tretyakov de Moscou

"Nana", Petr Vilvams, 1934, óleo sobre tela, 163x130 cm,Galeria Tretyakov de Moscou

"Um gigante na construção de máquinas agrícolas", Ekaterina Zernova, 1931
"Abril na casa materna de Lenin", Nikolai Abramov,
1969, óleo sobre tela, 239x198 cm, Coleção provada
"Milho", Alexandr Bubnov, 1948, óleo sobre tela,
180x390 cm, Museu Estatal Russo de São Petersburgo
"Colhedoras de chá", Mikhail Gabuniya, óleo sobre tela, 152x310 cm, Coleção privada

"Retornando do mercado de Novgorod", Petr Konchalovsky, 1926,
óleo sobre tela, 180x330 cm, Museu Estatal Russo de São Petersburgo

"Ataque a um abrigo inglês no Front do Norte", Yuri Pimenov, 1928
óleo sobre tela, 199x289 cm, Galeria de Pintura de Lvov
"Operária da fábrica de cigarros",
Alexandr Samokhvalov, 1928,
óleo sobre tela, 73 x 71 cm, Museu Estatal Russo de São Petersburgo

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Aleksandr Ródtchenko na Pinacoteca de São Paulo

A Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Instituto Moreira Salles inauguraram neste fim de semana (19/02/2011) em São Paulo, uma exposição com cerca de 300 obras do fotógrafo russo Aleksandr Ródtchenko.

Aleksandr Mikhaïlovitch Ródtchenko nasceu em 3 de dezembro de 1891 em São Petersburgo. Filho de pai cenógrafo e decorador de um pequeno teatro e de uma mãe lavadeira, ele é um dos grandes artistas daquela que ficou conhecida como a Vanguarda Russa do começo do século XX, junto com outros nomes célebres como Maliévitch, Kandinsky, Wladimir Tatlin e o próprio poeta Mayakovsky, seu amigo pessoal.
Entre 1910 e 1914 Ródtchenko freqüenta a Escola de Belas Artes na pequena cidade de Kazan, a 720 km de Moscou, onde conhece sua futura esposa, a artista plástica Várvara Stepanova. Ao concluir seus estudos, se instala em Moscou e em 1915 começa a trabalhar em suas primeiras composições geométricas em preto e branco. Conhece o artista Vladimir Tatlin e outros artistas da época. Em 1917 ele funda, junto com outros artistas, o Sindicato dos Artistas Pintores, ditos “de esquerda”. Ródtchenko também fará parte de diversas entidades soviéticas e, como a maior parte dos artistas da Vanguarda Russa, ensinará nas escolas de arte criadas pela Revolução de 1917.
Em 1921 ele participa de diversas exposições de pintura, mas logo em seguida, ao assinar o manifesto construtivista ele abandona a pintura e parte para a produção de objetos. O Construtivismo nasce como uma nova corrente artística com o sentido de fazer experiências concretas a partir da vida real. De 1922 em diante, ele desenha numerosos cartazes de propaganda política, de filmes ou mesmo publicitários, influenciado pelas idéias do Construtivismo. A ideia dos construtivistas era tornarem-se artistas-engenheiros, plenamente atuantes na revolução socialista que estava em curso na União Soviética. Para ele havia uma necessidade absoluta de ligar o processo criativo à produção e organização prática da vida.
Em 1923 começa a colaborar com diversas editoras, realizando ilustrações e mesmo capas de revistas, como a da revista futurista LEF, que depois se chamou Novi LEF, que era dirigida por Vladimir Maïakovski. A partir de 1924, se consagra inteiramente à Fotografia, onde ele realiza seus experimentos pictóricos. Em 1925 ele monta o pavilhão soviético numa exposição internacional das Artes e da Indústria modernas em Paris. Ródtchenko também trabalha para o cinema e o teatro, criando móveis e objetos de decoração.
Em 1933, foi encarregado de ir fotografar a construção de um canal que liga o mar Branco ao Báltico, inaugurado por Stalin, para uma revista soviética. Em 1939 Ródtchenko e sua esposa Stepanova produziram juntos diversos álbuns de fotografias, como Quinze Anos de Cinema Soviético, Aviação Soviética e Dez Anos do Uzbequistão. Durante a II Guerra Mundial, o casal se afasta de Moscou, se refugiando na vila de Perm, aos pés dos Montes Urais, na companhia de outros artistas. Lá ele trabalha em cartazes com o tema da guerra. Após esse período, ele continua publicando seus álbuns fotográficos, agora fazendo experimentos com fotos coloridas, sempre tendo como tema a União Soviética. Ródtchenko morreu em Moscou em 3 de dezembro de 1956.
Aclamado internacionalmente por suas qualidades como pintor, escultor e desenhista de cartazes, Ródtchenko deixou sua marca também como grande inovador nas artes gráficas, com suas famosas fotomontagens, além de suas reportagens fotográficas. Mas é como fotógrafo que ele se torna uma das maiores referências mundiais. Nesta exposição que chega à Pinacoteca de São Paulo, podem ser vistas obras como Corrida de cavalos (1935), Campeões de Moscou (1938), Coluna da Sociedade Esportiva Dinamo, 1932 (1935), Crise (1923), Autocaricatura (1922), A Primeira Cavalaria (1935), Barcos (1926), Degraus (1929), Banho (1929), Varvara Stepânova (1937) e Retrato da mãe (1924), além dos famosos retratos do poeta Vladimir Maiakóvski, seu amigo pessoal.
Retrato da mãe do artista

Segundo Olga Svíblova, “em 1924, a fotografia foi invadida por Ródtchenko com o slogan ‘Nosso dever é experimentar’ firmado no centro de sua estética. O resultado dessa invasão foi uma mudança fundamental nas ideias sobre a natureza da fotografia e o papel do fotógrafo”. Ródtchenko aliou a experimentação formal à sua preocupação em documentar a vida política e social da União Soviética.
De uma forma original, ele mudou a perspectiva da fotografia, movendo suas lentes para outra direção, especialmente descobrindo novos pontos de vista, novos ângulos, novo enquadramento. Ródtchenko descobriu ângulos inéditos na fotografia: de baixo para cima ou de cima para baixo, criando os famosos “ângulos de Ródtchenko” como pode ser visto em Pioneiro (1930), Escada de incêndio (1925) e Reunião para uma manifestação (1928).
Essa exposição que se inaugura em São Paulo já foi apresentada em Londres, Berlim, Amsterdã e Rio de Janeiro. Com curadoria de Olga Svíblova, diretora da Casa de Fotografia de Moscou, a mostra recebeu o título de “Aleksandr Ródtchenko: a revolução na fotografia”. Nela, podem ser vistas também as séries de fotomontagens feitas para capas de revistas como Novi LEF, citada acima,  e a Dal ochi Pionier, assim como cartazes e anúncios.
Local: Pinacoteca do Estado de São Paulo
Endereço: Praça da Luz, 2 São Paulo, SP 
Telefone: (11) 3324-1000