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quarta-feira, 24 de abril de 2019

David Leffel, o artista da luz

Natureza-morta, David Leffel, óleo sobre tela
Todos os que me conhecem mais de perto, sabem da minha grande admiração pelo artista norte-americano, que hoje tem por volta de 85 anos de idade: David Leffel. Reproduzo abaixo o artigo introdutório ao livro "Oil painting, secrets from a master", de Lynda Cateura, que foi sua aluna. 

Neste artigo, de autoria de outro artista, Gregg Kreutz, podemos saber um pouco mais sobre o pensamento pictórico deste grande mestre.

LEFFEL, O ARTISTA
Autorretrato, David Leffel,
óleo sobre tela

Fui conhecer David Leffel pessoalmente, após ter visto suas pinturas. Para mim, esse momento descrevo como uma espécie de  choque... Suas pinturas parecem a princípio elegantes mas austeras - e uma das características pessoais mais marcantes de David é sua aconchegante simplicidade. Ele adora uma boa história, conta piadas maravilhosas e é essencialmente uma pessoa calorosa. Se houver alguma aparente disparidade entre David e suas pinturas, isso, no entanto, é uma ilusão. Elas são impressionantes, mas, como ele, também são acessíveis e tocantes.

Lembro-me de ir ao estúdio de David pela primeira vez. A sala estava tão pouco iluminada que, seu interior, incluindo meu anfitrião, mal se distinguia. Quando meus olhos se ajustaram, no entanto, vi armações, cavaletes, adereços de natureza-morta e pinturas espalhadas pelo estúdio. No centro de tudo, quase diretamente sob a clarabóia, havia uma velha mesa frágil com algumas cebolas e uma velha panela sobre ela.

Havia uma pintura ao lado da mesa e quando olhei para ela, fiquei chocado! Em vez de retratar a coleção aleatória de objetos que vi, a pintura forçou-os a desempenhar papéis em um drama convincente de luz. As cebolas emergiam de uma sombra escura, ficando mais claras e leves, de certo modo levando a luz ao ponto focal da panela amassada. Com rico impasto e cor quebrada, o pote destacava-se majestosamente contra o fundo escuro, amassado e enferrujado, quase um heróico sobrevivente. A pintura não alterara nada na configuração. Na verdade, parecia mais real. Mas de alguma forma, Leffel transformou o temporário em algo eterno.

Todas as pinturas de Leffel têm essa qualidade. Seja qual for o assunto, ele consegue encontrar algo para tirar a imagem do literal para o reino da poesia. Cada pintura é sobre algo muito diferente de suas simples aparência. Embora um autorretrato, por exemplo, possa ser incrivelmente fiel à aparência de David, também pode evocar uma resposta mais profunda. Estou pensando em uma que mostra David olhando atentamente para fora de uma escuridão sombria, seu rosto apenas parcialmente iluminado, sugerindo uma busca interior. A iluminação sombria descreve a busca interna. A obscuridade e intensidade de seu olhar sugerem a dificuldade de tal busca.


"A cegueira de Sansão", Rembrandt, 1636, Frankfurt, Alemanha
Esse tipo de busca do uso funcional da luz é uma das qualidades mais distintivas da pintura de Leffel. A luz leva o espectador em direção à imagem central. Quando atinge este ponto focal, ela é geralmente mais intensa, e assim o olho pode descansar naturalmente.

A luz, nas mãos de David, torna-se a ferramenta com a qual ele dirige o olho para o que é  significativo. Este conceito (ser conduzido através da pintura pela luz) é um dispositivo que Rembrandt empregou consistentemente. Rembrandt é um exemplo óbvio de um grande artista cujas pinturas sempre usaram a luz para ajudar a contar a história. Em sua pintura sobre a cegueira de Sansão, por exemplo, as lanças, os soldados e a luz estão todos voando em direção aos olhos dele com uma violência vertiginosa. A luz não apenas ilumina a cena - é um participante ativo no drama.

Leffel não faz segredo de sua admiração por Rembrandt, e em muitos aspectos pode ser visto como um herdeiro daquele grande mestre.

Uma pintura realista que combina precisão perspicaz com beleza, preenche uma das nossas mais profundas esperanças - de vivermos em um mundo harmonioso. As pinturas de Leffel consistentemente fazem essa afirmação, pois ele é um artista supremo.

Gregg Kreutz
Artista de Nova York, 1984

Natureza-morta, David Leffel, óleo sobre tela
Natureza-morta, David Leffel, óleo sobre tela
Autorretrato no ateliê, David Leffel, óleo sobre tela
Estudo em óleo sobre tela, David Leffel

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Isaac Levitan, pintor da paisagem russa

"Eterno silêncio", Isaac Levitan, óleo sobre tela, 1894
Retrato de Isaac Levitan,
por Valentin Serov
Isaac Ilich Levitan nasceu em 1860, em Kybartai, na Lituânia, filho de judeus pobres. Seu pai, Eliashiv Abramovich, era professor particular das línguas francesa e alemã, e com isso pagava as despesas familiares, mas também educava seus filhos. Levitan recebeu suas primeiras lições com seus pais, em casa. Sua mãe, Bert Moiseevna, também havia sido educada e valorizava muito a formação dos quatro filhos. No final da década de 1870, a família se mudou para Moscou. Lá, apesar de uma situação financeira ainda pior, os pais de Levitan queriam incentivar a paixão de seus filhos pela arte, o que mostraram desde o início, e não se opuseram à decisão de Isaac de se tornar um artista e entrar para a Faculdade de Pintura e Escultura de Moscou.

Em 1875, a família sofreu um duro golpe com a morte da mãe. Em seguida o pai ficou gravemente doente de tifo e não podia mais sustentar seus quatro filhos com as aulas particulares. Em 1876 Eliashiv faleceu.

Autorretrato, Isaac Levitan, 1880
Levitan passou sua juventude em extrema pobreza, sendo inclusive expulso da escola por não pagar seus estudos. Seus amigos reuniram o dinheiro necessário, e ele pode retornar às aulas. Mais tarde, o conselho de professores da faculdade decidiu deixá-lo estudar gratuitamente e até mesmo concedeu-lhe uma pequena bolsa de estudos, levando em conta o talento do rapaz. No mesmo ano, foi transferido para o curso de ciências naturais de Vasily Perov, que fazia parte do grupo “Os Errantes” (uma sociedade de artistas realistas russos formada em 1870).

Mais tarde, Levitan foi estudar com o famoso paisagista Aleksey Savrasov, que tomou conhecimento dos talentos de Levitan, assim como de sua pobreza, e lhe ajudou até financeiramente. Em 1877, na quinta exposição de arte de “Os Errantes” em Moscou, exibida no edifício da faculdade, Levitan participou com duas pinturas. Apesar de terem recebido grande aclamação, o Conselho Universitário só lhe ofereceu um diploma que lhe dava o direito de ensinar arte. Mesmo assim, segundo seu amigo Mikhail Nesterov, Levitan havia “trabalhado duro” e merecia o prêmio.

"Dia ensolarado", Levitan,
óleo sobre tela, 1876
Em 1879, o revolucionário judeu Alexander Soloviev tentou matar o czar Alexandre II, disparando seu revólver contra ele. O czar conseguiu fugir, e Soloviev foi condenado à morte por enforcamento. Por causa disso, foi decretada oficialmente a proibição aos judeus de viver na capital russa. Isaac e seus irmãos tiveram que deixar a cidade e se estabeleceram numa pequena casa na província de Saltykova. Nesse mesmo ano ele conseguiu vender sua pintura “Noite depois da chuva”. Continuava pintando sem parar a paisagem de seu país, apesar dos preconceitos que sofria por ter origem judaica. “O menino judeu talentoso incomodava outros professores que diziam que ‘judeu não deve pintar a paisagem russa’”. Mesmo assim, aos 24 anos de idade Isaac Levitan já tinha seu diploma de Pintor pela Faculdade de Pintura e Escultura de Moscou.

No mesmo ano, 1879, Levitan participou de uma segunda exposição de estudantes onde exibiu sua pintura "Um dia no outono em Sokolniki", que foi adquirido por Pavel Tretyakov e, com isso, seu talento foi reconhecido oficialmente.

Somente em meados da década de 1880 sua situação financeira começou a melhorar, graças a trabalho duro e muito sacrifício. Ele conheceu e se tornou grande amigo do escritor russo Anton Tchekhov, quando ainda ambos eram estudantes pobres. Mantiveram contato durante a década de 1880, encontrando-se constantemente em Moscou e nos arredores e foram os melhores amigos até os últimos dias de Levitan. Sua amizade era baseada em uma percepção similar sobre a natureza e sobre o mundo. 

"Depois da chuva", Levitan, óleo sobre tela
Em 1887 realizou seu grande desejo de conhecer o rio Volga, bastante retratado por seu professor de paisagens Savrasov. Mas seu primeiro contato foi frustrante: o dia estava muito frio e muito nublado e o rio lhe pareceu “triste e morto”. 

"Dia de outono", Levitan,
óleo sobre tela, 1879
Voltou no ano seguinte, na primavera, junto com outros artistas como Alexei Stepanov e Sofey Kuvshinikovoy. Durante a viagem, os amigos descobriram a beleza da pequena cidade de Plyos, próxima a Moscou, às margens do Volga. Resolveram ficar por lá um tempo e ele passou três temporadas de verão bastante produtivo, quando executou cerca de 200 obras. Esse esforço lhe rendeu fama e Levitan passou a ser popularmente conhecido como pintor de paisagens.

É desse período sua pintura "O refúgio silencioso". Seus contemporâneos diziam que essa pintura mostrava a natureza russa como "algo novo, mas muito próximo e querido". Desde então, todas as exposições itinerantes, assim como todas as exposições da Sociedade dos Amantes da Arte de Moscou e as exposições internacionais em Munique apresentavam obras de Levitan.

No final de 1889, pela primeira vez Isaac Levitan viajou para a Europa Ocidental, visitando França e Itália. Queria ver a pintura impressionista de perto mas, voltando a seu país, se manteve fiel a seu próprio caminho pictórico. 

Novamente foi obrigado a deixar Moscou em 1892, por ser de origem judaica. Viveu um tempo nas províncias de Tver e Vladimir. Graças a esforços de seus amigos, Levitan obteve uma “permissão especial” para voltar a viver em Moscou. Em seguida, viajou à Finlândia. Neste mesmo ano teve um infarto, do qual não se recuperou mais. 

Faculdade de Pintura, Escultura
e Arquitetura de Moscou
Sua saúde era muito frágil. Seus biógrafos dizem que por causa da fome que passou na infância e de uma vida sempre atribulada, Levitan desenvolveu problemas cardíacos muito cedo. O ano de 1895 foi um ano muito difícil para o artista. A doença do coração lhe trazia muita dor e sofrimento, e juntando a isso problemas em sua vida pessoal, Isaac Levitan vivia melancólico o que levou-o ao desespero e a tentar o suicídio. Mas seu amor pela natureza e pela arte o sustentou e o ajudou a superar sua doença e a fazer novas descobertas na arte. Em 1896 participou de mais uma exposição coletiva, desta vez na província de Odessa.

O melhor amigo, o escritor
Anton Tchekhov
Em 1897 escreveu a Tchekhov: “As coisas estão ruins. Meu coração não bate, sopra. Em vez de tum-tum eu ouço pfff…” Em março, em Moscou, teve um encontro com Pavel Tretyakov. 

Em 1898 recebeu o título acadêmico de “pintor de paisagens” e passou a ensinar pintura na mesma escola em que estudou em Moscou. Lá, criou um local especial para a pintura de paisagem, um lugar onde poderiam trabalhar todos os pintores de paisagens russas. Um de seus estudantes ressaltou a grande influência de Isaac Levitan em sua vida de artista: “sob sua orientação, a pintura ia tomando vida, cada vez de forma nova, como as suas próprias, que eram verdadeiros cantos da mãe natureza que ele percebia mais do que ninguém”. 

Em 1899, os médicos o enviaram para passar uma temporada em Yalta, onde vivia Tchekhov, que viu seu amigo chegando ofegante, pesadamente apoiado em sua bengala, falando que a morte se aproximava dele. Seu coração doía quase continuamente…

O pintor Serov, pintando Levitan
Mas os ares de Yalta nada puderam fazer pelo pintor doente. Levitan retornou a Moscou e quase não saía mais de casa. Em maio de 1900, Tchekhov foi visitar o amigo, agora gravemente doente. No dia 22 de julho, por volta das oito horas da manhã, seu coração parou de bater. Faltava pouco tempo para completar 40 anos de idade. Em sua oficina, mais de 40 pinturas estavam inacabadas e deixara mais de 300 esboços. A última pintura em que trabalhou foi “Lago”, também inacabada. Foi enterrado no cemitério judeu de Dorogomilovsky. Em seu funeral, estavam presentes os pintores Valentin Serov, Apolinário Vasnetsov, Konstantin Korovin, entre outros, assim como alguns de seus alunos, amigos e admiradores.

Em 1901 foi realizada uma exposição póstuma de obras de Isaac Levitan em São Petersburgo e Moscou, entre elas a pintura inacabada "Lago", que mostra a natureza russa a partir do sentimentos e pensamentos do artista a respeito da Rússia, que ele considerava sua pátria. Dois anos depois, seu irmão Abel Levitan erigiu um monumento no túmulo de seu irmão.

Em abril de 1941 seus restos mortais foram transferidos para o Cemitério Novodevichy, ao lado dos túmulos de seus amigos Tchekhov e Nesterov. 

Isaac Levitan deixou mais de mil pinturas!

Abaixo, você pode apreciar uma pequena amostra das obras deste grande mestre:


"Savvinskaya sloboda perto de Zvenigorod", Levitan, 1884
"Crepúsculo na dacha", Levitan



"Março", Levitan, 1895

"Nenúfares", Levitan, 1895

"A noite após a chuva", Levitan, 1879
"Noite no rio", Levitan



"Outono dourado", Levitan, 1895

"Ponte em Savvinskaya Sloboda", Levitan, 1884

"Primavera na Itália", Levitan, 1890

"Rosas", Levitan

"Claustro tranquilo", Levitan, 1890

"Vladimir", Levitan, 1892

"Fortaleza na Finlândia", Levitan
"Lago", última pintura de Levitan, 1900 - inacabada

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Lucien Freud morreu, viva Lucien Freud!


O pintor realista Lucien Freud
Morreu na noite do dia 20 para 21 de julho (anteontem), o pintor realista naturalizado inglês, Lucien Freud, uma grande figura da arte contemporânea. Após uma breve enfermidade, morreu aos 88 anos de idade.

Lucian Michael Freud nasceu em 8 de dezembro de 1922 na cidade de Berlim, na Alemanha. Filho de pais judeus,  Ernst Ludwig Freud, arquiteto, e de Lucie Brasch, ele era neto do psicanalista Sigmund Freud. Lucien emigrou com sua família para a Grã-Bretanha, após a subida dos nazistas ao poder. Logo após a II Guerra ele começou a ser conhecido como pintor, graças aos retratos de personalidades da época.

Os temas de suas pinturas são geralmente a vida de pessoas comuns, que levam uma vida comum: seus amigos, famílias, amores, crianças, nus, mulheres gordas, rostos marcados. Ele passava a impressão de não dar nenhuma concessão à estética contemporânea, pintando essas cenas comuns da vida de pessoas comuns, muitas das quais seus amigos íntimos. Fez muito retratos, entre os quais o da rainha Elizabeth da Inglaterra, mas do seu jeito, com sua visão pessoal.

Certa vez, Lucien Freud disse ao crítico de arte Robert Hughes: “Eu jamais poderia colocar numa pintura nada do que não esteja ali, à minha frente. Isso seria uma mentira deslavada, um golpe baixo.” Isso explica sua escolha pela pintura figurativa, realista.

Ele morreu em sua casa em Londres, onde vivia de maneira simples: uma casa com jardim situada no bairro de Notting Hill onde ele tinha instalado também seu atelier.