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sexta-feira, 22 de maio de 2015

O sol

Jardim da casa onde viveu Joaquín Sorolla, hoje museu
Escultura representando o
pintor Joaquín Sorolla
Fui novamente ao Museu Sorolla. Tinha ido umas três vezes em 2013, mas tanta coisa aconteceu nestes dois anos que achei melhor voltar lá. Joaquín Sorolla faz parte do meu interesse de pesquisa nesta fase atual. Por causa da sua luz. Os quadros dele brilham! Dá até para pensar que eles têm luz autônoma, de tão iluminados que são. Claro, pois ele pintou esta luz espanhola, que é muito luminosa também nesta época do ano, na primavera em que estamos aqui. E ainda mais no verão!

De tão brilhante, esta luz nos "encandeia", pra usar um termo lá do meu nordeste. Ele foi muitas vezes à praia, com sua mulher Clotilde e seus filhos. Tanto em Valência, sua cidade, quanto em outros lugares. E fez inúmeros estudos dessa luz à beira-mar, tanto do efeito dela nas velas dos barcos dos pescadores, quanto na pele e na roupa das pessoas, nos corpos das crianças nuas que se banhavam no mar, nos guarda-sóis, e até no pelo de bois e cavalos que participavam da rotina dos pescadores.

"Depois do banho", de Sorolla
No jardim da casa onde ele morou, e onde está o museu, passei um tempo bom desenhando, tentando alcançar os valores nas folhagens do jardim. Depois entrei e vi de novo aqueles quadros incríveis, assim como seu ateliê, seus pincéis, godês e cavaletes. A casa está quase intacta, no sentido de que até a decoração é a mesma de quando ele morava aqui. Dá até pra sentir como seria o movimento da casa, onde ele estava sempre presente, pois trabalhava no ateliê que foi feito dentro dê casa.foi um bom pai, viu seus filhos crescerem, ensinou-os a pintar, e os dois mais velhos seguiram a carreira do pai. Só a filha menor resolveu ser escultora. Desde a década de 1950, a casa e o museu estão sob a responsabilidade do governo espanhol, mais precisamente do Ministério da Cultura e Educação.

No meu país também tem muita luz! A pele do meu povo é de todas as cores, e mais morena em geral. Penso nisso sempre. Penso que vivo num país iluminado, não nesses países onde a luz do sol é quase um milagre e as pessoas vivem na penumbra, em ambientes fechados, aquecidos artificialmente, iluminados artificialmente. As vidas dessas pessoas é mais interiorizada, claro, pois falta sol em suas vidas. Mas no meu país, não, no meu país tem luz o ano todo, as pessoas gostam de se encontrar, de fazer festa, de dar risada e falar com todo mundo. Mesmo que estejamos passando momentos difíceis atualmente, tudo acontece debaixo do sol. Para o bem e para o mal, o sol brilha do mesmo jeito. Penso nisso.

Bom...

Parágrafo.

Pintura de Sorolla no cavalete
Para não dizerem que sou sectária, que venho a Madrid e não vou ao Museu Reina Sofia, fui ao Museu Reina Sofia! Consegui ficar uma hora inteira lá dentro! E vi quatro andares de exposição! Eu já fui umas quatro vezes ao Museu do Prado, já devo ter acumulado muitas horas lá dentro e ainda não consegui ver tudo o que tem pra ser visto lá...

Mas no Reina Sofia eu percorri tudo em uma hora! E olha que eu fiquei uns 15 minutos olhando para a Guernica, de Picasso. Já tinha visto boa parte daquilo em 2001, mas é claro que agora com outra experiência. Lógico que Miró, Dali, Picasso e todos os vanguardeiros do começo do século XX tinham uma mensagem a passar. Mas eu não sou obrigada a gostar de uma tela grande manchada de azul feita por Yves Klein só porque foi feita por Yves Klein! Nem nada me obriga a perder meu tempo diante de telas pintadas inteiramente de uma cor só. Nem mesmo diante dos quadradinhos coloridos do Mondrian! Me desculpe quem achar que neste momento estou cometendo uma heresia e que eu deveria ser castigada! Diante de tantos deuses! Nada me faz trocar Andy Wahrol por Velázquez! Ah.... Mas os tempos eram outros! Claro! Assim como hoje já não é mais o tempo de Andy Wahrol, nem de Dali, nem de Mark Rothko, nem de Duchamp.... Ahhhh..... Mas tem tanta gente ainda que quer esticar o tempo do penico conceitual! Concordo, isso tem mesmo! Em todos os lugares do mundo.

Materiais de trabalho de Sorolla
A desconstrução toda que foi feita a partir do início do século, descontruiu a pintura, as velhas formas de criar, desmontou as figuras, inventou imagens novas, rabiscou e coloriu o que se quis ao bel prazer de quem assim quis. Fez sentido. O mundo estava se acabando nas guerras, nos assassinatos de milhões de pessoas, na fome, no medo. Era natural que a arte refletisse esse caos. Se você olha para uma pintura de Fernando Léger, que tem no Reina Sofia e que é um dos que eu gosto, ele expressa essa contradição imensa entre vida e morte, entre o homem e suas máquinas de explorar e de guerrear...

Mas hoje?

O que faz sentido hoje?

Continuar repetindo o conceito artístico de quem achava que a arte precisava se estagnar?

Ou de quem queria ver uma grande revolução mudando o mundo e começou com sua própria técnica de pintura?

Quem são os "revolucionários" de hoje nas artes?

Quem?

Repito a pergunta: quem?

Vou procurando saber e por isso vou a Sevilla amanhã logo cedo, numa viagem de três horas de trem, para a terra de Diego Velázquez. Vou em busca desse sol que iluminou a ele e a Sorolla. E que me aqueça, porque esta Madrid ainda está muito fria e seca e venta muito e minha gripe não passa...

Notícias darei de lá.

Feliz, no Museu Sorolla
Aqui trabalhava o pintor Joaquín Sorolla
Pinceis de Sorolla

Esboços feitos em pequenos pedaços de papel ou de madeira, por Sorolla
Casa de Sorolla
Casa de Sorolla
Museu Sorolla
Frente da casa onde viveu Joaquín Sorolla
Jardim da casa de Sorolla
Jardim da casa de Sorolla
Uma das árvores plantadas por Sorolla

domingo, 23 de outubro de 2011

Museu de l’Orangerie: de Monet a Sorolla

Parisienses no Jardim des Tuileries, se aquecendo ao sol


A tarde estava clara, céu azul e brilhante deste outono gelado. Nessa época do ano, o dia termina por volta das oito da noite, mas logo começa o horário de inverno e vai estender um pouco mais a luz sobre a cidade. As pessoas ficam lagarteando em cadeiras de ferro verdes espalhadas pelas Tuileries, buscando se aquecer ao sol, enquanto descansam. Ao fundo, à esquerda, lá longe, a Torre Eiffel desponta. Muitas pombas convivem aqui com as pessoas e patos nadam nas águas das fontes desse jardim imenso. Pessoas de todas as cores e línguas se cruzam.


Museu de l'Orangerie
Como não dá para ter certeza quem é da terra e quem é turista, perguntei para um senhor de pele muito negra, que estava com um crachá da prefeitura, trabalhando na manutenção do Jardim: para que lado fica a entrada de l'Orangerie? Ele me apontou a direção, muito simpático, mas falando num francês super carregado de sua língua árabe-africana cujo “r” é impossível reproduzir. Vi alguns cabelos brancos despontando em sua cabeça, pensei o quanto já devia ter trabalhado nessa vida. E veio parar em Paris, para viver essa vida proletária, em busca da sobrevivência. Agradeci a ele e segui para lá, enquanto o rosto marcado e bonito desse homem passava pela minha mente, em massas que iam do azul ao laranja, do marron escuro ao verde; vontade de pintar seu rosto.
O Museu de l’Orangerie fica localizado no Jardim des Tuileries, à direita de quem está olhando para o Louvre e sua pirâmide de vidro. O Museu tem esse nome por ter sido construído sobre um antigo laranjal. Foi construído em 1852 pelo arquiteto Firmin Bourgeoais e concluído por seu sucessor Ludovico Viscontias. Era antes a plantação de laranjas do Jardin des Tuilleries. 
Uma das grandes "Nympheas" de Monet
Na entrada, como sempre acontece nos museus maiores daqui, fila para comprar o bilhete. Mas como eu estava com meu ticket para quatro dias, entrei direto.
Logo no piso superior, um anúncio de que ali estavam expostas as famosas Nympheas de Claude Monet, o grande pintor impressionista que postou seu cavalete ao sol de Giverny e pintou aqueles jardins cheios de plantas aquáticas. São telas gigantescas, dispostas em paredes arredondadas. Para ver a tela inteira, há que se tomar uma distância. Mas eu também gosto de ver o pincel do artista, então fiquei examinando seu trabalho com as cores. Aquilo que os pintores, a partir de Tiziano, tinham descoberto – rompido com o limite da linha – os impressionistas alcançaram o máximo da aplicação de pinceladas em massas grandes, sem linha. As Nympheas, bem de perto, chegam a ser abstratas. Mas quando se distancia, vemos que toques de tinta configuram flores, folhas e paisagens.
São duas salas grandes, ocupadas por essas pinturas de Monet.
As meninas, de Renoir
Desci a escada e fui para outra ala do museu. Lá estão os impressionistas, mas também outros pintores, com obras do final do século XIX e começo do XX: André Derain, Auguste Renoir, Paul Cézanne, Gauguin, Alfredo Sisley, mais Monet, Matisse, Modigliani, Rousseau... Mas o pintor que eu não conhecia e que me chamou a atenção foi André Derain. Fiquei com vontade de ler mais sobre ele, de saber mais sobre sua vida.
Derain, pelo que li nas descrições do Museu de l’Orangerie, tinha sido um pintor fauvista, depois cubista, até que um dia entrou no Museu do Louvre e algo mudou dentro dele. Estava escrito lá na parede do l’Orangerie o que ele teria dito: "Mes idées ont été entierement effarées quando j’ai vu au Louvre les impressionistes expos és au côté de Rembrandt, de Rubens, de Velazquez, de Watteau, de Poussin, de Raphael... (...) Um Le Nain tout gris démolissait les Monet” (minhas ideias foram inteiramente abaladas, quando eu vi, no Louvre, os impressionistas expostos ao lado de Rembrandt, de Rubens, de Velazquez, de Watteau, de Poussin, de Raphael. (...) Um quadro de Le Nain (os irmãos Le Nain, que viveram em Paris por volta de 1630) todo cinza demoliu os quadros de Monet). Nesse momento, Derain se convenceu da superioridade dos mestres antigos e, continua o texto do Museu: “Derain renovou a cadeia, o que é mais difícil do que rompê-la”! Fui ver imediatamente as pinturas de André Derain de depois desse dia: realmente ele mudou a maneira de pintar, voltou à pintura pictórica e profunda; sem ser acadêmico; mesmo mantendo um viés bem atual. Gostei deste André Derain!
Arlequim e Pierrot, de André Derain
Saí da sala de Derain e fui ver os espanhois, com avidez. Os espanhóis são bons há 500 anos! Logo na entrada da primeira sala, um texto explicava que a Espanha, no século XIX havia estancado numa sociedade fechada e sombria. O país passava por uma crise muito forte e, enquanto o resto do mundo se iluminava com as ideias da Revolução Francesa, aquele país permanecia envolto em si mesmo. Os pintores de então resgataram seus mestres de antigamente, Vélazquez, Goya, El Greco. E produziam telas densas, cujas cores fortes impressionam logo de cara!
Anotei os nomes, para futuras pesquisas: Modest Urgell, Ignacio Camarolench, Santiago Rusiñol y Prats, Ignacio Zuloaga, Julio Romero de Torres, Dario de Regoyos y Valdés, Nicolau Raurich, Hermen Anglada-Camarasa, Joaquim Mi i Trinxel, José Gutierres Solana e o grande (que eu já conheço um pouco) Joaquin Sorolla!
Telas de Pablo Picasso
Solana, Rusiñol e Zuloaga que, em primeiro momento eram pintores de paisagens, resolveram mudar totalmente para pintar cenas de rua, essas pessoas que perambulam por aí, vagabundos, bêbados, esfomeados, banidos.
Vários deles tinham vindo para Paris e se encontravam em ateliês e studios que eles dividiam entre si em Montmartre. Picasso foi um deles. Pintavam a realidade que viam nas ruas desse bairro parisiense. Mas com sua visão espanhola, característica, formada dentro do estilo de mestres do passado, mas especialmente de Francisco Goya, o que dá para ver pela insistência no uso das cores fortes. Por Paris também passaram Joan Miró e Salvador Dali. O Dali que está aqui é ainda o Dali pré-surrealista.
Joaquin Sorolla
Terminei minha visita parando muito tempo em frente a uma tela grande de Joaquin Sorolla. Me lembrando de todas as conversas que temos lá no Atelier Takiguthi, em São Paulo, vendo como Sorolla resolvia o problema das grandes massas aos pequenos toques. Ele é muito mais impressionante de perto! Tudo o que já tinha visto dele era dos livros. Mas aqui, frente a essa tela, sim, dá para ver que ele de fato dominava seu trabalho. Como todos os mestres, Joaquin Sorolla gastara dias, meses e anos em estudo minucioso do mundo da pintura e sabia exatamente onde colocar cada pincelada, com o valor preciso, no jeito correto. Trouxe, em pensamento, alguns colegas e amigos do Atelier, para olharem comigo aquele quadro: Alexandre, Cleir, Luis, Luciane, Sérgio, Marcelo, Marie, Jorie, Misael... e Maurício. Nesse encontro virtual provocado pela minha vontade de ter com quem comentar essa tela, “chegamos” a um só desejo: chegaremos lá, Sorolla! Para isso, vamos continuar ralando muito!
Joaquin Sorolla