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domingo, 7 de abril de 2013

Diário de Madrid VI

Uma das figuras engraçadas na Puerta del Sol, assustando as pessoas

Domingo de sol, vamos para a rua. Eu e todo mundo desta cidade, onde parece que todo mundo gosta de sair, de passear, de ver gente, de ficar junto. Fui para a Feira de Rastros, uma feira de coisas antigas, usadas e boas. Parece que esta feira existe desde a Idade Média na mesma Plaza del Cascorro, estendendo-se pela Calle de la Ribera de Curtidores, onde ficavam antigamente os matadouros, açougues e curtumes da cidade.

Estava totalmente lotado de gente daqui e de fora. Muita bugiganga pra vender, mas também muita coisa excelente, em especial móveis de design antigo, de madeira muito boa e muito baratos! Pena não poder levar ao Brasil. Em São Paulo esses móveis antigos são caríssimos. 

Aqui em Madrid daria para se montar uma linda casa com algumas dessas peças, sem gastar muito. Eu li em algum lugar que aqui neste bairro também ficava a Fábrica de Tabacos, cujas operárias eram muito batalhadoras pelos seus direitos.


Desci em direção à Puerta de Toledo, uma espécie de Arco do Triunfo, como é comum por estas terras europeias. Na mesma rua, veio vindo em minha direção uma procissão: na frente um grande banner com um ícone de Jesus e atrás dele jovens e velhos, cantando hinos religiosos. Parece que esse tipo de evento toma uma dimensão diferente em lugares como este. De repente me vi como se estivesse na Idade Média e um dos quadros do Goya tinha se transformado em uma Animação... Mas durou um segundo; logo me vi de volta ao século XXI...

Passei novamente pela Puerta del Sol, em direção ao restaurante Miau na Plaza Santa Ana. Assim que cheguei na Plaza, ouvi música. Aqui tem música em todo lugar (e acho que já falei isso antes). Só que, além dos instrumentos, ouvi vozes, muitas vozes cantando juntas. 

Cheguei perto, era um círculo grande de pessoas em volta de dois violinistas que tocavam enquanto todos cantavam. Que lindo isso! Fui cantar com eles! Os músicos tinham distribuído as letras das músicas para as pessoas.

Madrid é uma cidade humana, apesar de tudo. Caminhando por aqui são muitos os momentos em que algo acontece: alguém tocando, alguém cantando, dançando, fazendo performances variadas, alguém desenhando. Povo nas ruas; ruas ocupadas por gente. Lembrei-me de São Paulo, tão difícil, tão caótica para essas manifestações. Kassab, ex-prefeito, chegou a proibir os artistas de rua! Mas o tempo de Kassab acabou e hoje está acontecendo o Festival Baixo-Centro e o Minhocão deve estar lotado de gente, como aqui. Há esperança... E minha filha, Gabriela, está por lá.

Mas voltemos à Plaza Santa Ana. Quando a música acabou, um dos violinistas falou alguma coisa e começou a declamar um poema. Não tive dúvidas: neste momento chamei meu amigo poeta Jeosafá Gonçalves para cá. Falei-lhe: - Vamos cantar juntos con estas personas nesta tierra de tus abuelos, Jeosafá? Nos portamos ao lado de uma senhora que tinha as letras das músicas nas mãos, enquanto ouvíamos a poesia. O músico anunciou a próxima música e todos pegaram seus papeis: "No nos moverán"! Olhei para o Jeosafá: - Mundo estranho, cheio de surpresas! E cantamos todos juntos uma música cuja melodia saiu do fundo de algum lugar qualquer da minha memória porque eu a conhecia! Sei lá de onde! Mas de noite, na internet, descobri porque eu conhecia esta música: claro, é uma música que Joan Báez cantava! Era uma espécie de hino norte-americano de resistência. 

"No, no, no nos moveran! no, no nos moverán!
No, no, no nos moveran! no, no nos moverán!
como un árbol firme junto al rio
no nos moverán.

Unidos en la lucha, no nos moverán
unidos en la lucha, no nos moverán
como un árbol firme junto al rio
no nos moverán!"

- Caraca, Jeosafá, qué es eso?
- Es la vida, Mazé, es la vida!

E fui para o meu almoço.