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domingo, 26 de junho de 2011

Museu Niemeyer – o olho de Curitiba


Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Paraná
Neste feriadão, junto com o final de dez dias de férias, resolvi pegar a rodovia Régis Bittencourt rumo a Curitiba. É sempre temeroso encarar a Régis, mas estava razoavelmente tranquila na ida e muito tranquila no retorno ontem, sábado. Fui ver Curitiba um pouco melhor e voltei com a sensação de que aquela é uma cidade bastante organizada, limpa, cheia de simetrias, seja pelas ruas retas e longas, seja pelas araucárias que se veem aqui e acolá.


Fui direto para o Museu Oscar Niemeyer, inaugurado em 22 de novembro de 2002. Sua forma se assemelha a um olho, por isso o apelido de Museu do Olho. Ele está localizado ao lado de um amplo parque, para onde os curitibanos vão com suas famílias, seus amigos, seus namorados, seus bichos. As pessoas se agrupam sobre toalhas grandes, fazendo piqueniques de fim de tarde. Outros namoram, outros conversam em grupos, outros caminham, crianças brincam. Nenhum perigo a vista.


A arquitetura do Museu do Olho é de Oscar Niemeyer mesmo: saguões amplíssimos, de teto baixo, e muitas curvas. No primeiro pavimento – o mais amplo de todo o conjunto – várias exposições, entre elas “Dores da Colômbia – de Fernando Botero”, “Fotografias de Maureen Bisilliat”, “Mulheres no Acervo MON”, “Arcângelo Ianelli”, “Carlos Motta – marceneiro, designer e arquiteto” e um rescaldo do que foi a 29ª. Bienal de São Paulo, além de outras.


Destas aí, vi com muita atenção as fotografias de Maureen Bisilliat (que me encantou muitíssimo!), as pinturas de Ianelli e de Fernando Botero. E as “Mulheres”.


MAUREEN BISILLIAT – sempre se fala que quando um livro ou um filme é muito bom, logo de cara ele te domina. Foi o que aconteceu comigo em relação à fotografia desta inglesa, nascida em 1931, e naturalizada brasileira. Muito brasileira, eu diria. Ela fotografa o povo brasileiro, de todos os recantos do Brasil.


Bumba-meu-boi em São Luís, 1978
Em 1978 ela passou por São Luís do Maranhão e fez uma reportagem fotográfica com os dançantes do Bumba-meu-boi. Reportagem belíssima! Nessa época eu morava em São Luís e nem podia imaginar que ela estava lá fazendo esse trabalho que eu iria ver 33 anos depois em Curitiba! A vida...


Essas fotografias de São Luís faziam parte do projeto de composição do acervo da Galeria de Arte Popular O Bode, que era de Maureen Bisilliat, de seu marido Jacques Bisilliat e do arquiteto Antonio Marcos Silva. Em 1988, Darcy Ribeiro, antropólogo, convidou os três para formar o acervo de arte popular latino-americano da Fundação Memorial da América Latina, em São Paulo.
Fotografias de Maureen Bisilliat
Maureen Bisilliat
Mas ela também era amiga dos escritores brasileiros João Guimarães Rosa e Jorge Amado. Para eles, ela fez fotografias especiais do povo sertanejo de Minas Gerais e da Bahia. Lindas! Como são lindos os vaqueiros nordestinos que ela fotografou, vestidos em gibãos de couro, valentes, tingidos do sol da caatinga. E como são lindas as mulheres caranguejeiras paraibanas que Maureen também fotografou, para a revista Realidade, na década de 70.


Ela também lançou livros de fotografia inspirados em "Os Sertões" de Euclides da Cunha. Guimarães Rosa, de quem ela leu "Grande Sertão: Veredas", sugeriu que ela fosse para o interior do Brasil e que ela entenderia muito bem o sertão, até por suas raízes irlandesas. Ela foi e voltou com imagens belíssimas do povo sertanejo.


Fernando Botero – sua exposição no MON intitula-se “Dores da Colômbia”. São pinturas onde ele retrata pessoas mutiladas, assassinadas, sofrendo violências de todo o tipo, angustiadas, desesperadas. Como ele diz, sobre esta exposição, sua ideia era deixar “um testemunho de artista que viveu seu país e seu tempo. É como dizer: vejam a loucura em que vivemos.” Todas as figuras humanas que aparecem, mesmo nessas cenas de violência das telas de Botero, são aquelas que são sua marca registrada: pessoas obesas, homens e mulheres. 


Fernando Botero
Não é uma exposição fácil de se ver, mas, enfim, a intenção do artista talvez tenha sido causar desconforto, para o qual a curadoria ajudou colocando os quadros em paredes cinzentas. “Meu país tem duas caras. A Colômbia é o mundo amável que eu pinto sempre, mas também tem essa cara terrível da violência”, expressa uma de suas frases na exposição. São 67 obras, entre pinturas a óleo, aquarelas e desenhos.


“Dores da Colômbia” é parte de uma corrente artística que vincula a arte e política, em contextos onde o artista se dá o papel de interpretar e denunciar fatos históricos em suas telas. São inúmeros os exemplos, como Delacroix, Francisco Goya e Pablo Picasso (com sua “Guernica”).
Dores da Colômbia, de Botero
Como um gesto de solidariedade ao seu povo, Botero doou a coleção ao Museu Nacional da Colômbia, quando declarou: “Não vou fazer negócio com a dor do meu país”.


ARCÂNGELO IANELLI – são 19 pinturas que pertencem ao acervo do Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, de várias fases significativas do pintor paulista Arcângelo Ianelli. Os quadros foram uma doação da família Ianelli ao Museu do Olho. 


Arcângelo Ianelli
Arcangelo Ianelli nasceu em São Paulo em 18 de julho de 1922 e morreu recentemente, em maio de 2009. Foi pintor, escultor, ilustrador e desenhista. Até 1959, seguia uma linha mais figurativa em suas pinturas mas, a partir de então começou a executar pinturas com figuras geométricas até ir para a pintura abstrata, forma como é mais conhecido.


No MON, podem ser vistas algumas obras ainda do período figurativo de Ianelli, alguns dos quais marcam sua fase final como pintor figurativo. Claro que esses 19 quadros são apenas uma pequena amostra do conjunto do trabalho do artista que participou, entre outros, do Grupo Guanabara.


Esse grupo se formou em São Paulo em 1948 e se reunia na oficina de molduras de Tikashi Fukushima. Eram quase todos japoneses, mas havia alguns “estrangeiros”, como Arcangelo Ianelli. Saiam juntos nos fins de semana para desenhar pelas ruas da Vila Mariana ou pelo Brooklin. Cada um pintava como queria, ninguém dava palpite no trabalho do outro. Mas depois, em 1959, o grupo se extinguiu e Ianelli seguiu seu caminho.


O trabalho de Arcangelo Ianelli é muito característico seu, desde o figurativo. As cores sempre são em tons reduzidos, formas geometrizantes, uma atmosfera fluida, até diria meio triste. A pintura dele não expressa alegria, leveza, claridade. Parece que expressa uma alma inquieta, solitária, angustiada com o que vê. E o que vê, na medida em que envelhece, são formas de cores opacas, um tanto desfocadas, profundamente longínquas.


É sempre bom ver um pintor que traz consigo a história de décadas de riqueza artística e histórica de nosso país e que conviveu com os maiores nomes da nossa pintura do período modernista e pós-modernista.


Arcângelo Ianelli é irmão do pintor Tomás Ianelli e pai do também pintor e escultor Rubens Ianelli.
Obras que pertencem ao acervo do MON, de Ianelli