quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Pequena história do autorretrato - parte VI

"Dança da Música no Tempo", Nicolas Poussin, 1638, óleo sobre tela
UM FRANCÊS


Nicolas Poussin (1594-1665), pintor francês radicado na Itália, é a própria imagem do Classicismo, na opinião de Yves Calméjane. Há dois autorretratos seus, um em Berlim e outro em Paris. Mas há um desenho em sanguínea que se encontra atualmente no British Museum de Londres que é muito mais revelador da “grandeza e nobreza desse pintor contemporâneo de Corneille e Descartes” (ver imagem abaixo).


É uma dor amarga, aquela do estóico prestes a ceder à mais dura pena”. Dá para perceber o desespero em seus olhos e sua boa parece que vai soltar um palavrão. Este homem sofre fisicamente e espiritualmente por estar à beira do desespero no qual vai cair. “Ele luta com Deus”.


Pouco se sabe sobre o começo  da vida de Nicolas Poussin, mas sabe-se que desde cedo ele guardava uma verdadeira paixão pelo desenho.


O pai de Poussin havia se arruinado com as guerras religiosas na França. Sem recursos, ele se estabelece na região da Normandia, onde se casa. Nasce Nicolas Poussin, que pode estudar com um professor de latim. Nesse período chega até Andely, onde viviam Poussin e sua família, um pintor que foi encarregado de alguns trabalhos de pintura na igreja local. Era Quentin Varin. Poussin consegue dos pais autorização para estudar desenho com o pintor e foi com ele que aprendeu também os primeiros ensinamentos sobre arte.


Mas seu desejo de crescer na arte, aquela vontade que move a gente pelo mundo, fez Nicolas Poussin partir para Paris, em algum dia de 1612. Ele vive com muita dificuldade, passando de um ateliê a outro… Conheceu e ficou amigo de Philippe de Champaigne e descobriu a arte do pintor italiano Rafael di Sanzio.


Um certo cavalheiro de Poitou se ofereceu para ajudá-lo, hospedando-o em sua terra. Mas Poussin foi tratado como um criado. Resolveu voltar à Paris, a pé, onde voltou mais uma vez a viver uma miserável existência, pintando aqui e ali… O princípio de carreira de Poussin foi muito duro! Exausto e doente, resolveu voltar à casa de seus pais, para se recuperar. Mas todas essas dificuldades não apagaram a chama da arte em seu coração. Poussin era de fato um apaixonado pela arte e toda a sua vida o demonstra.


Restabelecido, decidiu partir para a Itália. Roma era seu destino. Em Paris ele tinha ouvido falar tanto dos mestres italianos que resolveu ir conferir de perto e ver como aprender com eles.


Em sua primeira viagem à Itália, chegou até Florença e lá viu confirmadas suas expectativas de que seria lá que ele iria se desenvolver. Voltou à França, e trabalhou um pouco em companhia de Philippe de Champaigne em algumas encomendas para o Palácio de Luxemburgo em Paris. Depois partiu novamente em direção à Roma, sua obsessão. Mas foi preso por dívidas na cidade de Lyon. Novo retorno à Paris onde consegue uma encomenda dos Jesuítas, uma série de quadros sobre a vida de São Francisco Xavier, que ele pinta em uma semana. Por volta de 1622 ele conhece Giambattista Marino, um poeta napolitano que a Corte de Maria de Médicis havia acolhido em Paris. Poussin executa alguns desenhos para ele sobre temas retirados de Ovídio. Giambattista dá a Poussin o gosto pelos temas inspirados na cultura latina, que ele irá pintar durante toda sua vida.


Mais uma vez de volta a Roma, Poussin chega lá no começo de 1624.
Autorretrato em sanguínea, Poussin


Seu novo amigo, Giambattista Marino, traduziu bem o estado de espírito de Poussin naquela época: ele era animado por uma “fúria do diabo”. Nicolas Poussin acabou ficando sozinho em Roma, pois seu amigo partiu para Nápoles, sua terra natal, onde morreu no ano seguinte. Como em Paris, Poussin vive em Roma em verdadeira miséria. De vez em quando vendia um quadro, muito mal pago. Mas trabalhador furioso, ávido de progresso, ele frequentava as escolas para bons pintores. Aperfeiçoa seus conhecimentos de perspectiva e faz dissecações de cadáver para aprender anatomia.


Ele procura sua veia artística e recusa totalmente o estilo dos caravaggistas, por exemplo. Ele odiava Caravaggio! Dizia que ele tinha vindo ao mundo para destruir a arte da pintura: “uma pintura tão vulgar não pode ser feita senão por um homem vulgar. A feiúra de suas pinturas irá levá-lo ao inferno”, disse Poussin. “A morte da Virgem” de Caravaggio tinha horrorizado Nicolas Poussin, que acabou seguindo o caminho da pintura clássica, esfumada, linear.


Poussin continuava vivendo na pobreza. Durante muitos anos ele procurou desesperadamente por ajuda e por encomendas. Caiu de novo doente, desta vez com o “mal da França”, a sífilis. Esta doença o fará sofrer muito, alternando períodos de certa tranquilidade com outros onde sentia muitos incômodos físicos. “Extremos”, como ele disse. Foi exatamente neste período que ele pintou seu autorretrato em sanguínea… Por este desenho, dá para perceber seus sofrimento, sua humilhação e sua incapacidade para trabalhar…


Mais uma vez ele encontrou alguém que veio ajudá-lo: o cozinheiro francês Jacques Duguet, que era de Paris. Duguet foi procurar algum médico que pudesse ajudar Poussin, enquanto sua esposa e filha aliviavam bondosamente as suas dores. Em troca da bondade dessa família, Poussin ensinou pintura a um dos filhos, Gaspard. Em seguida, Poussin se casa com a filha mais velha de seu amigo, Anne-Marie. Segundo seus biógrafos, Poussin finalmente conheceu repouso físico e mental após seu casamento e pode enfim se consagrar plenamente à sua paixão, a arte.


O ano deste autorretrato desenhado por Poussin representa uma reviravolta em sua vida. Ele retoma seu caminho, em direção à Arcadia, aos tempos dourados da Roma antiga, ao clássico modo de vida, à filosofia clássica.


UM INGLÊS


Do outro lado do Canal da Mancha, a atmosfera era mais descontraída.


"O pintor e seu cão", William Hogart, 1745
William Hogarth (1697-1764) era inglês e adorava cães. Assim que pintou um autorretrato, não deixou de pintar junto seu cão. Em 1745 ele se pinta vestido com roupas de traballho, repousando sobre obras de Shakespeare, Swift e Milton. Neste quadro pode-se ver sua paixão pelo teatro.

Seus quadros obtiveram muito sucesso na sociedade inglesa em plena expansão, mas que também guardava disparidades sociais terríveis. Hogarth se tornou um sátiro feroz dessa sociedade britânica, através de seus quadros que ele apelidou de “peças morais”.

Ele colocou o teatro na pintura, e também a pintura no teatro. Fazendo isso, ele também mostrava sua crítica social: “Minha pintura é minha cena e meus personagens são atores que representam uma pantomima silenciosa”, disse ele.

Na primeira de suas telas-teatro, a “A carreira de uma prostituta”, de 1731, pintura feita em 6 telas, ele conta a vida edificante de uma prostituta inglesa. Em seguida, pintou “A carreira de um vagabundo”, de 1735, também dividido em 8 telas. onde ele descreve a vida, edificante e desastrosa, de um homem jovem que não sabe resistir ao jogo, ao álcool e às mulheres. O quadro-teatro seguinte é “Casamento da moda”, 1743, em 6 telas, onde ele se inspira numa comédia de John Dryden, um antigo poeta e escritor inglês.


Ele obtém sucesso imediato com esses espetáculos em tela, que ele também divulgava em gravuras sobre papel que se propagaram pelas colônias britânicas e por toda Europa. Ele foi logo copiado e pirateado por toda parte. Sabendo disso, William Hogarth desenvolve uma verdadeira campanha que acaba gerando uma lei, em 1735, que carregava seu nome, consagrada à proteção do direito autoral.

Hogart também passou a pintar retratos, inclusive retratos de grupos, além de cenas cotidianas. Ele recusou pintar cenas religiosas e históricas, pois ele tinha aversão, misturada a um pouco de xenofobia, em relação ao que pintavam os mestres franceses e italianos.

Em 1757 ele pinta um novo autorretrato, em frente a seu cavalete, numa tela sem nenhuma decoração (como seu primeiro autorretrato), onde o centro de tudo é ele e seu ofício de pintor. Seu pequeno cão não está presente aqui. Ele não queria descrever nada mais do que pintou. Na época, já havia recebido um título como pintor da parte do rei George II.

Autorretrato de 1757, William Hogarth

Gravura inspirada na série "A carreira de um vagabundo", de Hogarth

"Casamento da moda", uma das telas-teatro de William Hogarth, óleo sobre tela

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Pequena história do autorretrato - parte V

"A arte da pintura", Jan Vermeer, óleo sobre tela, 1666
Retomamos o assunto da história do autorretrato, após uma pausa longa da qual pedimos desculpas.

E com isso, chegamos até Caravaggio, o pintor “maldito”.

CARAVAGGIO

Detalhe de autorretrato
de Caravaggio  (ver abaixo)
A vida de Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), que manejava a faca como o pincel, é um romance sombrio, diz Yves Calméjane, autor do livro “Histoire de moi”. Por causa disso, sua biografia inspirou o cinema, inclusive com a beleza dramática da luz que ele dava a seus quadros tenebristas.

Debochado, beberrão, briguento, trapaceiro, depravado, assassino e sedutor de mulheres e rapazes, este andarilho das noites a dentro, este solitário permanentemente em fuga, sabia fazer tudo com um pincel na mão e uma tela… E revolucionou a pintura de seu tempo, encontrando a Beleza na escuridão das noites e madrugadas! Ele também pintou seu autorretrato em várias de suas telas.

Mas nada de tranquilos autorretratos! Com Caravaggio, seu rosto apareceu pintado em cabeças cortadas e bocas abertas em gritos. Ele não fez nada como os outros pintores. Escolhia seus modelos nas ruas sujas de Roma entre mendigos, vagabundos e prostitutas. Com seus rostos ele pintou deuses, anjos, santos e virgens, mas guardando-lhes a verdade: suas falhas e sua sujeira. Uma verdade que fará o pintor clássico Nicolas Poussin uivar de desgosto…

Mesmo antes de completar 20 anos de idade, Caravaggio pinta seu rosto na cabeça da Medusa, ser mitológico com cabelos de serpentes. Um pouco antes de morrer aos 39 anos de idade, ele se pinta na cabeça do gigante Golias, cortada pelo pequeno Davi… Era um pobre pintor agoniado… (leia mais sobre Caravaggio aqui)

DIEGO VELÁZQUEZ

Detalhe de autorretrato
em "Rendição de Breda"
(veja abaixo)
Agora chegamos a um outro pintor que revolucionou toda a pintura: o espanhol de Sevilha, Diego Velázquez (1599-1660). O leitor pode saber mais sobre a vida deste grande pintor em outro artigo deste blog (clique aqui). Para este texto, vamos nos concentrar mais nele como um dos pintores que se interessaram em pintar o próprio rosto.

Velázquez era o pintor do rei Felipe IV, na Corte da Espanha do século XVII. Sua pintura “As meninas”, um dos quadros mais famosos do mundo, mostra um Velázquez à esquerda, com a palheta de tintas e pincel à mão, pintando uma tela que não vemos (ou vemos?).

Com 19 anos de idade ele pinta a “Adoração dos magos” onde seu sogro Pacheco é um dos magos idosos, enquanto que ele mesmo, Velázquez, se representa como um outro mago, mais jovem, ajoelhado aos pés de Jesus e da Virgem, que não é outra que sua própria esposa.

Mais tarde, e já na corte do rei, ele pinta o quadro histórico “A rendição de Breda”, a pedido do rei e nele também Velázquez se pinta como uma das testemunhas deste acordo de paz. (leia mais sobre Velázquez aqui)

VERMEER e REMBRANDT

Detalhe de autorretrato
de Vermeer em "O casamenteiro"
(veja abaixo) 
Rembrandt (1606-1669) e Vermeer (1632-1675), dois grandes mestres da pintura holandesa, são contemporâneos porém diferentes em muitas coisas, entre elas, no que diz respeito aos autorretrato. O primeiro foi um dos pintores que mais se autorretratou, enquanto do segundo conhecemos apenas um autorretrato, e de costas…

Vermeer pintou pouco na vida, menos de 40 obras. Quase não sabemos sobre sua vida, não conhecemos nem mesmo quem foram seus mestres, se é que ele teve um… Não deixou nenhum escrito e não teve alunos. Sabemos que ele se converteu ao catolicismo após se casar com Catharina Bolnes e que eles tiveram 15 filhos, sendo que quatro morreram ainda pequenos. Sabemos ainda que ele era membro da Guilda dos pintores de Delft, mas que, para manter sua numerosa família, ele tinha uma espécie de galeria onde comercializava as pinturas de outros pintores. (mais sobre Vermeer aqui)

Graças a alguns metódicos pesquisadores de arte, existe uma chance de que em um de seus quadros Vermeer tenha se pintado de costas.

Vermeer pintou pouco na vida, menos de 40 obras. Quase não sabemos sobre sua vida, não conhecemos nem mesmo quem foram seus mestres, se é que ele teve um… Não deixou nenhum escrito e não teve alunos. Sabemos que ele se converteu ao catolicismo após se casar com Catharina Bolnes e que eles tiveram 15 filhos, sendo que quatro morreram ainda pequenos. Sabemos ainda que ele era membro da Guilda dos pintores de Delft, mas que, para manter sua numerosa família, ele tinha uma espécie de galeria onde comercializava as pinturas de outros pintores.
Graças a alguns metódicos pesquisadores de arte, existe uma chance de que em um de seus quadros Vermeer tenha se pintado de costas. Ou até pode ser que uma figura masculina que aparece em outra pintura seja ele mesmo, já que está vestido com a mesma roupa e o mesmo chapéu que na tela “A arte da pintura”. Na verdade, em um leilão realizado em 1696 em Amsterdam, o catálogo apresentava, entre outras, 21 telas de Vermeer. No terceiro lote esta assim escrito: “Retrato de Vermeer em um interior com diversos acessórios, de uma rara beleza, pintado por ele”. Era o quadro “A arte da pintura”, que atualmente está exposto no Kunsthistoriches Museu de Viena, Áustria. Nesta tela, há um pintor em pleno trabalho.

A moça que aparece nesse quadro, à esquerda, representa Clio, a musa da História, que carrega um trompete e tem na cabeça uma coroa de heras, símbolo da vitória. Também carrega um livro de história. Seria graças a Clio que não nos esquecemos os momentos de glória. Seus olhos vêem uma mesa onde estão postos uma máscara de teatro, uma partitura musical e um caderno de desenho. Ela parece pronta a proclamar que estas artes conheceram tempos gloriosos… Este tempo seria o de antes da revolta religiosa e política contra os Habsbourg que, por Felipe II e seu pai Carlos V, descendiam dos duques de Bourgogne, que eram grandes mecenas das artes.

Nesse quadro, Vermeer realizou uma alegoria onde cada elemento evoca uma ideia. A obra “A arte da pintura” seria então não só um manifesto político, como artístico.

REMBRANDT

Autorretrato de Rembrandt, 1628
Ao contrário de Vermeer, Rembrandt pintou inúmeros autorretratos, da juventude à velhice.

Em seu retrato de 1628, quando estava com 22 anos de idade, Rembrandt resume o que seria sua arte. Este estudo de claro-escuro que caracteriza toda a arte do mestre, já anuncia os profundos autorretratos de sua fase madura. Sobre um fundo luminoso, a cabeça pintada quase em silhueta, iluminada por um raio de luz sobre o lado direito da face escondida também pelos vastos cabelos, surgem na sombra os dois olhos que parecem dialogar com o espectador…

Em 1961, o estudioso dos autorretratos Manuel Gasser observou que, no caso de Rembrandt, os autorretratos "eram um meio dele se conhecer melhor, e no final da vida tomaram a forma de um diálogo interior: um velho homem solitário se comunicando consigo mesmo enquanto pintava”.

Da juventude à velhice, os autorretratos de Rembrandt parecem os de um homem que queria acompanhar os efeitos do passar do tempo em seu próprio rosto… O autorretrato do final de sua vida, além de tudo, é uma verdadeira metáfora do homem e do tempo que ele viveu. (mais sobre Rembrandt aqui)

Abaixo as obras mencionadas:


"David com a cabeça de Golias", Caravaggio, 1609-1610


"Cabeça da Medusa", Caravaggio, óleo sobre tela, 1598
"Adoração dos magos", Diego Velázquez, óleo sobre tela, 1619 
"A rendição de Breda", Diego Velázquez, óleo sobre tela, 1634-35

"As meninas", Diego Velázquez, óleo sobre tela, 1656

"O casamenteiro", Jan Vermeer, óleo sobre tela, 1656
Um dos últimos autorretratos de Rembrandt

Autorretrato de Rembrandt

Autorretrato de Rembrandt

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Exposição dos alunos do Ateliê Contraponto

Na sexta-feira, 9 de dezembro, professores, alunos e seus convidados comemoraram as conquistas de mais um ano de trabalho, o terceiro ano do Ateliê Contraponto!

2016 foi um ano difícil para todos nós e para o Brasil, em especial. Um golpe foi dado e o caos está instalado. O Ateliê Contraponto, obviamente, também sofreu as consequências dessa crise política, econômica e social: perdemos alunos que ficaram sem condições de continuar. Mas alguns resistiram e outros novos chegaram. É assim a dinâmica da resistência nesses duros momentos. E resistir também é desenhar e pintar, porque...

"... As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto."

... como disse Drummond, nosso poeta.

No Ateliê Contraponto foi um ano de muito trabalho, de muito aprendizado, de muito esforço conjunto e individual. Pela quantidade e qualidade dos trabalhos apresentados, dá para ver que o ateliê começa a ter um amadurecimento muito bom, o que foi notado por diversas pessoas que foram até lá ver de perto, como Artur Montanari que me disse: "Mazé, estou impressionado com a qualidade do trabalho dos alunos do ateliê!" Verdade, esta exposição é uma amostra do empenho que todos têm feito para evoluir no desenho e na pintura.

Na comemoração, os alunos resolveram trocar seus trabalhos, num jogo de "amigo secreto" entre eles e nós, professores. Foi uma noite muito divertida, onde tivemos inclusive a participação do cantor lírico, o tenor Paulo Köbler, meu aluno, que cantou três músicas de seu repertório clássico.

Com esta atividade, o Ateliê Contraponto encerra seus trabalhos neste ano e deseja a todos que o ano de 2017 seja o melhor possível e que a chama da Arte continue iluminando e inspirando a todos nós em todos os nossos caminhos!

A exposição pode ser visitada até o próximo dia 17 de dezembro e de 10 a 28 de janeiro de 2017.

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Abaixo, algumas das fotos que registraram a comemoração do Ateliê.

Paulo Köbler cantando
Paulo Köbler apresenta seu quadro "Flor amarela"
Luiz Vilarinho e seu trabalho em carvão "Gatos"
Victor Boina, Virginia Morais, Tais Isensee e Luiz Vilarinho
Alexandre Greghi e sua pintura "Nu em preto e branco"
Mazé Leite apresentando sua pintura "Até a última gota"
Guilherme Martinez e sua pintura a óleo "O escafandrista"


Virginia Morais e Mikie Fucatu
Alexandre Greghi e Taïs Isensee
Taïs Isensee apresenta sua pintura em pastel "O dálmata"
Virginia e seu quadro "Andrógino"
Maria Fucatu e sua pintura em guache "Paisagem aquática"
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Alguns dos trabalhos dos alunos:



Pinturas de Guilherme Martinez, Taïs Isensee e Virginia Morais

Pinturas de Taïs Isensee e Guilherme Martinez

Pintura a óleo de Taïs Isensee

Pintura a óleo de Virginia Morais

Pintura a óleo de Guilherme Martinez


(Todas as fotografias são de autoria de Virgínia Morais)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Pausa necessária

Prezados leitores deste blog,

Por motivos de reorganização pessoal, informo que este blog Arte&Ofício voltará a ser atualizado até o dia 10 de dezembro com a continuação da História do Autorretrato e muitos artigos a mais sobre este mundo encantador das Artes Plásticas.

Pedimos desculpas por este longo intervalo sem publicação, mas este problema logo será solucionado.

Obrigada a todos!

Mazé Leite
autora do blog Arte&Ofício

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Pequena história do autorretrato - parte IV

"Festa de Caná", Paolo Veronese -
seu autorretrato se encontra no centro da cena, tocando um instrumento de corda
No mundo da arte, como diz Yves Calméjane, quando “uma estrela desvanece, outra se ilumina; quando um artista se apaga, outro nasce”. E tem sido assim ao longo da história da arte. Neste post aqui, vamos falar de alguns dos artistas que o autor do livro (“Histoire de moi - histoire des autoportraits”) destaca, tendo sempre como foco a história do autorretrato nas obras de arte.

ALBRECHT DÜRER (1471-1528)
Autorretrato de Dürer, feito em 1500
Nasceu em Nuremberg, Alemanha, em 21 de maio de 1471 e faleceu na mesma cidade em 6 de abril de 1528. É o mais conhecido dos artistas do Renascimento alemão, tendo sido pintor, desenhista, gravador e autor de diversos escritos teóricos sobre arte. Influenciou os artistas do século XVI na Alemanha e nos Países Baixos, mas causou admiração também entre os italianos, em especial, Rafael Sanzio.

Dürer pintou diversos autorretratos, sendo os mais conhecidos realizados quando ele tinha 22, 26 e 28 anos de idade. Neste último, feito em 1500, ele escreve: “Eu, Albrecht Dürer de Nuremberg, foi assim que me pintei com cores indeléveis à idade de 28 anos”. O autorretrato dele aos 26 anos está atualmente no Museu do Prado, em Madrid, Espanha.

Segundo Calméjane, Dürer é o primeiro artista que desde o princípio se afirmava como tal. Muito precoce, fez seu primeiro autorretrato com a idade de 13 anos, feito em desenho com Ponta de Prata sobre papel tonalizado. Ele possuía um talento raro. E tinha mania de escrever e fazer registros de tudo o que via, ouvia e aprendia. Nesse trabalho ele escreveu anos mais tarde: “Eu fiz esse retrato eu mesmo, me olhando num espelho em 1484, quando eu ainda era um menino”.

Dürer,
autorretrato nu
Albrecht Dürer fez algumas viagens à Itália, onde teve contato com as obras dos mestres italianos. Possuía um grande desejo de se tornar mestre em seu ofício, aprender tudo o que pudesse. Em seus registros, certa vez anotou: “Para ser um grande pintor, um eminente artista, é preciso copiar assiduamente as obras dos bons mestres, até que alcancemos uma completa liberdade da mão”.

Na Itália, lhe chamaram a atenção, em especial, as obras de Pollaiolo, Mantegna e Bellini. Se interessava em aprender sua técnica e apreciava muito as representações da figura humana nua e os estudos de anatomia. Por isso, foi ele quem fez o primeiro autorretrato nu da história da arte, por volta de 1505. Esta inovação foi imitada mais tarde, em 1525, por Jacopo Pontormo (1494-1557), que o fez em Sanguínea, mas não estava completamente nu.

Dürer trabalhava de forma intensa. Foi muito copiado por outros contemporâneos e por causa disso recorreu ao Conselho de Nuremberg diversas vezes, pedindo proteção contra estes copiadores. Por isso, passou a colocar uma espécie de “logomarca” sua em todos os desenhos e gravuras que fazia, uma espécie de atestado de autenticidade… Se queixava de certos artistas italianos que lhe “denegriam”, copiando-o: “muitos me são hostis e procuram copiar minhas obras nas igrejas e por todo lugar onde podem encontrá-las”.

GERLACH FLICKE (1545-1558)

Autorretrato de Gerlach Flicke. À direita, seu companheiro de prisão,
o pirata Henry Strangwish
Nasceu na Alemanha, mas ficou conhecido mesmo por seu trabalho de pintor em Londres. Foi lá que ele fez o primeiro autorretrato pintado em óleo na Inglaterra. De origem católica, ele foi obrigado a fugir de sua terra por causa da repressão exercida pela Igreja Reformada Alemã, que passou a perseguir os que não se convertiam ao protestantismo. Mas a Inglaterra também vivia período de turbulências por causa do mesmo motivo (a Reforma Protestante) e Gerlach foi levado preso para a Torre de Londres em 1554. Decidiu, antes de morrer, pintar seu autorretrato, mas fez também o retrato de seu companheiro de cela, o pirata Henry Strangwish.

As duas pinturas são em formato bem pequeno. Gerlach escreveu em seu autorretrato: “Aqui está o retrato de Gerlach Flicke enquanto pintor na cidade de Londres. Fui eu mesmo que pintei com a ajuda de um espelho, e pintei-o para meus amigos, para que eles possam ter alguma lembrança minha após minha morte”.

Que aconteceu quatro anos depois. Mas ele ainda fez alguns poucos retratos, incluindo um de Thomas Cranmen que, em 1545, foi o primeiro arcebispo protestante de Canterbury.

RAFAEL E MICHELANGELO
Rafael Sanzio (1483-1520), foi pintor, escultor e arquiteto, autor das famosas pinturas em afresco conhecidas como as “Stanzas do Vaticano”.

Detalhe do afresco "Juizo Final" de
Michelangelo, onde ele pinta seu autorretrato
Michelangelo Buonarrotti (1475-1564) também foi pintor, escultor e arquiteto. É o autor do famoso afresco pintado no teto da Capela Sixtina.

Ambos trabalhavam para a igreja Católica, em especial para o Papa Julio II.

Em seu quadro “A Escola de Atenas”, (veja abaixo) terminado em 1511, Rafael pinta a si mesmo num grupo de homens que representava as Belas Artes, e se pintou próximo de Perugino. Nesta mesma obra, representou Leonardo da Vinci como Platão, Michelangelo como Heráclito, segundo Yves Calméjane.

Do seu lado, Michelangelo pinta em 1541, quando tinha 60 anos de idade, um terrível autorretrato. “As óbritas vazias e escuras não nos olham mais, mas os cabelos encaracolados e castanhos, a curvatura do nariz quebrado por Torigiano, a barba e o bigode caindo, e molhados das águas do Styx, não deixam nenhuma dúvida de que é um autorretrato”, complementa Calméjane.

EL GRECO (1541-1614)
Autorretrato de El Greco em
A Sagrada Família e Maria Madalena
Domenikos Theotokopoulos nasceu em Candia, Grécia, e morreu em Toledo, Espanha, em 1614. Ficou conhecido como El Greco e foi um pintor do período renascentista que desenvolveu um estilo muito pessoal de pintar. Até os 26 anos de idade viveu em Creta, onde pintava ícones em estilo bizantino. Depois disso, morou por 10 anos na Itália onde, em Veneza, estudou os mestres italianos, especialmente Ticiano e Tintoretto. Em Roma, estudou a obra de Michelangelo. Depois disso, mudou-se para Toledo, onde viveu e trabalhou até o fim da vida.

El Greco se pintou diversas vezes em suas obras, como na “Sagrada Família e Maria Madalena”, de 1592. Se pintou na figura de São José. Para a Virgem, usou como modelo sua esposa Jeronima de las Cuevas e o Menino Jesus era seu próprio filho, Jorge Manuel. El Greco usou seu filho como modelo para diversas pinturas.

PAOLO VERONESE (1528-1588)
Filho de um pedreiro, nasceu em Verona, Itália, onde se formou como pintor. Em 1541 se tornou discípulo de Antonio Badille, que era pai de Elena, com quem Veronese se casou. Com 28 anos de idade mudou-se para Veneza, onde se desenvolveu ainda mais em sua arte, aprendendo muito com as obras de Ticiano e Tintoretto. Veronese e Ticiano são os grandes pintores da Escola Veneziana.

Após o Concílio de Trento, os severos padres da Inquisição decidem controlar absolutamente tudo o que dissesse respeito à fé católica.

No dia 18 de julho de 1573 se lançaram contra uma pintura de Veronese, cujo título era “A Última Ceia”. Ela tinha sido feita para adornar o refeitório do convento dos santos João e Paulo.

Chamado imediatamente pelo Santo Ofício, Veronese teve que responder aos padres indignados. Eis o diálogo que teria ocorrido:

Padres: - O que você faz?
Veronese: - Desenho e pinto figuras…
P - E o que significa a figura cujo sangue sai do nariz?
V - É um servo, que um acidente qualquer lhe fez sangrar o nariz…
P - E o que significam essas pessoas armadas e vestidas à moda alemã?
V - Nós pintores nos damos as mesmas licenças poéticas que poetas e loucos se dão e por isso eu quis representar esses boas-vidas aí, um bebendo, outro comendo embaixo da escada, prontos para cumprir seus serviços. Porque parece possível, e desejável, que o dono de uma casa rica pudesse ter tantos servos.
Padres: - E aquele vestido de bobo da corte com um papagaio na mão?
V - Está lá como um ornamento…
P - Que faz o terceiro personagem?
V - Ele limpa os dentes com um garfo…
P - E vos parece conveniente, na Última Ceia de Nosso Senhor, representar bobos da corte, alemães bêbados, anões e outras bobagens? Por isso, nós, os julgadores pronunciamos que o supracitado Paolo Veronese seja obrigado a corrigir e emendar seu quadro em um prazo máximo de três meses!

As modificações exigidas pelos padres da Inquisição nunca foram feitas. Veronese apenas mudou o título do quadro para “Jantar na casa de Levi”.

Paolo Veronese pintou numerosas telas em refeitórios de congregações religiosas usando sempre temas bíblicos, mas que eram muito mais profanos do que religiosos. Na tela “Festa de Caná”, ele pintou Tintoretto tocando violino, Bassano na flauta e Ticiano no contrabaixo. São 132 figuras na cena! Ele mesmo se pinta um autorretrato tocando um instrumento de corda. Calméjane observa que naqueles tempos, era comum pintores também serem músicos, como é o caso de Tintoretto, que teria sido também um talentoso violinista.

"Escola de Atenas", Rafael Sanzio - abaixo seu autorretrato
"Escola de Atenas", detalhe
Rafael é este jovem à direita, olhando
para a frente
"Sagrada Família com Maria Madalena", El Greco
Autorretrato de Albrecht Dürer aos 13 anos 
"Juízo final", Michelangelo
"Jantar na casa de Levi", Paolo Veronese 
Autorretrato de Albrecht Dürer aos 26 anos